quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

No teu deserto


Há muito tempo (o que é muito tempo em 30 anos de existência???), diria há uns 12 anos para cá, que ganhei o hábito de sublinhar frases nos livros que leio.

Porque são ideias geniais. Porque são muito estúpidas. Porque me identifico com elas. Porque as acho abomináveis. Porque são rasgos de lucidez. Sobretudo porque gosto de abrir os livros de vez em quando e folhear, à procura do que me chamou a atenção na altura em que os li.

Termino o ano com No teu deserto, de Miguel Sousa Tavares, 125 páginas que se absorvem de uma assentada. Muitas frases… uma história… a história que não se previa...

“Na verdade, o deserto não existe: se tudo à sua volta deixa de existir e de ter sentido, só resta o nada. E o NADA É O NADA: conforme se olha, é a ausência de tudo, OU PELO CONTRÁRIO, O ABSOLUTO”. p.49

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

As legendárias meias de Natal

Em conversa com uma amiga descobri que uma das suas prendas favoritas tinham sido umas meias de riscas. Meias?! Gargalhada geral... Quem havia de dizer que as famigeradas meias que levaram gerações a sair das listas de prendas, tinham regressado e imagine-se com medalha de bronze.

Nem a propósito, no almoço natalício com os meus septuagenários avozinhos, eis que questiono a minha avó sobre a essência de oferecer meias. A resposta não podia ser mais ilustrativa: “Meias de lã quentinhas, bem bom!”.

A verdade é que umas meias de algodão coloridas e bem dispostas, são suficientes para marcar presença, e não desiludirem, ao contrário de muitos outros objectos que nos oferecem e são verdadeiros tiros ao lado… não encantam mas desencantam e fazem-nos pensar “É assim que me vêem para me oferecer isto????”.

Já fora da óptica das trocas de presentes simbólicas, ou dos laivos de verdadeiro consumo, curiosamente não ouvi ninguém a desejar ardentemente nenhum bem material.

Inconscientemente (ou não) as pessoas pedem novos projectos profissionais, que os amores antigos regressem, ou que apareçam novas paixões, querem ter mais amigos, querem ingressar em novos cursos, querem construir e dar sentido à vida… sobretudo querem tornarem-se melhores pessoas e mais felizes… seja lá o que isso for!!!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Dedicatórias num livro


Há duas grandes tipologias de dedicatórias nos livros: AS QUE FICAM e as QUE VÃO.

Curiosamente as dedicatórias que FICAM são aquelas que tiveram menor impacto emocional. As que obtivemos numa sessão autógrafos na feira do livro. As que pedimos a um professor numa última aula. As que solicitamos ao autor no dia do lançamento da obra. As que foram escritas por um amigo querido que nos ofereceu um título que tanto cobiçamos. As que obrigamos uma outra amiga querida, a escrever porque queriamos à força que deixasse a sua marca no objecto. Todas elas viverão connosco, na medida em que durar o nosso para sempre.

E as outras? As dedicatórias QUE VÃO?

Esta outra tipologia são dedicatórias menos resistentes, que foram escritas numa conjuntura que mudou. Deixaram de ter significado para nós... mas podem tornar-se incómodas quando descobertas por pessoas que nos passaram elas a fazer dedicatórias.

O pensamento dos mais racionais é deixar o livro na estante intacto, mesmo contendo numa página “Amo-te”. Afinal não se rasgam pessoas, esquecem-se. Elas fizeram parte da nossa vida… (os racionais com um bocadinho de peso na consciência, atiram o dito “livro dedicado” para os confins do sótão da casa dos pais).

Os mais honestos oferecem-no a um amigo que não se inibe de o manter ou então de recortar a famigerada dedicatória, dado que para eles esta se encontra desprovida de qualquer sentido.

A terceira espécie são os egoístas, que querem manter os livros, porque gostam da poesia, porque gostam do romance, porque gostam dos pensamentos do dia… e esses um dia rasgam as folhas… só não sabem quando!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Financiamento Estatal ou Milagres só na Cova de Iria

Há dias o Camilo Lourenço, comentava no Money Box, no RCP: “Em economia não há milagres. Milagres é na cova de iria, não é em economia”. A frase vinha a propósito da actualização do salário mínimo, em que 25% do aumento será comparticipado pelo Estado, e do financiamento à classe empresarial que vive na dependência do Estado. Neste último caso protelando apenas a morte de muitas empresas, e em simultâneo dificultando a possível reconversão as mesmas.

Minimiza-se o impacto social, mas não se resolvem problemas de fundo, adiam-se consequências. É muito fácil criarem-se círculos viciosos baseados em boas intenções, mas com resultados perversos. Os apoios sociais, se por um lado são pensados numa óptica de auxílio, geram em muitos casos comodismo e falta de criatividade, e capacidade de readaptação.

Este é um mal geral inerente à própria condição humana.

O rendimento mínimo de inserção é uma prova de que estes auxílios deixam de ser encarados como provisórios - como medicamentos para um episódio clínico - e passam a ser vistos pelos beneficiários como definitivos, como direitos garantidos - como medicamentos para uma doença crónica.

Mais uma vez o contribuinte, em especial o trabalhador por conta de outrem alimenta o pernicioso sistema. Eu concordo com o pagamento de impostos, numa óptica de estado social, desde que o contribuinte retire alguns benefícios do próprio sistema. Mas arrepia-me pensar que os impostos são o pagamento do dolce fare nienti de alguns.

Por exemplo, ao optar pelo pagamento de rendimentos mínimos de inserção e de subsídios de desemprego prolongados, à população activa, o Estado devia sem simultâneo arranjar mecanismos que obrigassem estas pessoas a prestarem um mínimo semanal de horas de trabalho comunitário, de acordo com as suas habilitações motivações e características pessoais.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Desejo de um prisioneiro: O Banho de imersão

Era uma vez uma tarde de Outono no estabelecimento prisional de Paços de Ferreira. Talvez inspirado pelo romantismo do cair das primeiras folhas um “recluso cozinheiro” teve uma ideia. Pegou no sabonete e no champô e esgueirou-se até à cozinha.

Encheu uma das marmitas (panela de grandes dimensões) com água e pô-la ao lume. Assim que ficou quentinha, desligou o fogão e saltou para dentro da imensa panela com os seus artigos de higiene. Começou a ensaboar a cabeça enquanto cantarolava e se deliciava com o luxuoso e relaxante banho de imersão.

Eis que o recluso foi surpreendido por um guarda que o levou ao director. Questionado com a ocorrência o prisioneiro explicou as suas motivações...

Gostava de tomar banhos de imersão quentinhos, e como só tinha acesso a duches frios diários e a um duche quente por semana, resolveu realizar o seu desejo… A graça valeu-lhe uma punição.


Ps. Apesar de contada à laia de anedota a história é verídica, vivida na primeira pessoa por um ex. Director dos Serviços Prisionais

domingo, 13 de dezembro de 2009

Café sem açúcar, mas com pacote...

Há anos que bebo café sem açúcar. Comecei por fazê-lo com base no corta calorias. Sem dar conta comecei a gostar do sabor amargo. Hoje acho impensável estragar o paladar com um pacotinho de açúcar.

Mas adoro os pacotinhos de açúcar fora do café. Em especial se forem Nicola…

São uma espécie de oráculos do óbvio. Das banalidades divertidas. Dos desejos recônditos. Dos sorrisos marotos. Das constatações deprimentes. Da partilha com alguém a quem a frase fica a matar. Do “deixa cá ver o que aparece desta vez”. Do “era mesmo isto que eu precisava de ler”. Do impulso para a mudança. Do contemplar a simplicidade da imaginação.

Desde 2003 que a Nicola apostou nesta nova dinâmica de comunicação. Em 2006 surge a campanha “Não fique por aí a dormir”, quase à laia do desperte o seu lado menos convencional, que é como quem diz selvagem. “Por cada beijo ganha-se cerca de 1 minuto de vida - Não fique por aí a dormir”. “Hoje é o dia” foi a campanha lançada em 2007, e que se tem vindo a renovar com frases novas em cada série.

Adoce o seu dia… leia um pacote de açucar!!!

Um dia…

…Troco o certo pelo incerto... Levo-te para um elevador e carrego no stop... És a causa de um novo tipo de música... Vais ao castigo... Saio da zona de conforto e arrisco... Mando o chefe passear... Vou ter contigo quando menos esperares... Vou-me apaixonar pela pessoa certa... Quebro a rotina... Parto a loiça toda... Faço-te a folha... Deixo de pensar em ti e parto para outra... Deposito as notas o monopólio para enganar a crise... Dou um beijo à homem aranha... Levo-te a andar de balão... Levo para casa um cão abandonado…

…Nunca mais digo um dia!!!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Priceless pleasures

Apresento uma grande lista de minúsculos prazeres. Daquelas sensações impagáveis que simplesmente nos fazem sentir bem. Colocam-nos sobre o rosto uns óculos cor-de-rosa, e esquecemos tudo. Nem que seja por um só instante, detemo-nos no presente e deliciamo-nos com a gratuitidade da vida…

> Encontrar um lugar de estacionamento numa rua apinhada de carros.
> Ouvir a música favorita num momento de zapping radiofónico.
> Um céu cheio de estrelas.
> Sentir o cheiro da terra molhada depois de uma noite de chuva.
> Ver um pôr-do-sol daqueles que cobrem o céu de rosa e laranja.
> Encontrar alguém querido por acaso ao virar de uma esquina.
> Darem-nos a conhecer uma música com a qual nos identificamos de imediato.
> Um mergulho numa ribeira com a cabeça cheia de shampoo.
> O cheiro da relva acabada de cortar.
> Uma viagem de carrossel.
> Um momento que nos relembre a nossa infância.
> Um abracinho apertado da avó.
> A joaninha que nos poisa no braço (num lugar improvável) em frente ao mar.
> Um táxi que passa numa rua deserta.
> Pisar uma poça de água com botas de borracha.
> Um bebé que nos sorri.
> Descobrir uma fotografia antiga em que estamos a fazer figuras parvas.
> Matar a sede com um copo de água.
> Olhar as luzes da árvore de natal no escuro e no silêncio.
> Acabar o dia com o sentido de dever cumprido.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A divina malandrice

Porque sorrir é o melhor remédio... não resisto em partilhar uma publicidade que me enviaram!! Um video de inspiração religiosa, em véspera de um feriado religioso.

Dia 8 de Dezembro, dia da Imaculada Conceição espelha o dogma católico da concepção da própria Virgem Maria. Maria foi desde o primeiro instante da sua vida protegida por Deus, e afastada desde logo do pecado original...

sábado, 5 de dezembro de 2009

Bondade e Humildade QB


Acho interessantes os artigos e reportagens onde se questiona o entrevistado sobre aquilo que ele gosta ou não. O típico gosto e não gosto. Parece-me que revela muito da pessoa, porque às vezes são os pequenos traços que definem a essência de cada um.

Há pouco ouvi uma dessas entrevistas a José Cid. Reproduzo duas frases:

“Gosto de pessoas humildes. Mas não gosto de pessoas demasiado humildes.

Gosto de pessoas boas. Mas não gosto de pessoas boazinhas.”


Não podia estar mais em sintonia….

A humildade é uma particularidade de carácter positiva e virtuosa de se for moderada. Quando em excesso assemelha-se à pobreza de espírito.

Igual juízo se pode tecer da pessoa boa, que tem capacidade de tornar a vida dos outros melhor. Já a pessoa boazinha não é genuína, mas um actor de má qualidade.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

1 de Dezembro - Dia Mundial da Luta contra a SIDA

A SIDA é a epidemia mais globalizada na história da humanidade. O vírus não tem fronteiras, pelo que nenhuma região ficou livre do flagelo. A SIDA, como nenhuma outra doença até então, tem a particularidade de ligar na nossa consciência duas das questões que desde sempre tocaram no íntimo do indivíduo: o SEXO e a MORTE.





domingo, 29 de novembro de 2009

“Rua da Saudade”

Deram-me a conhecer esta semana o CD “Rua da Saudade”, onde a obra poética de Ary dos Santos, falecido em 1984, é cantada pela voz de Luanda Cozetti, Mafalda Arnauth, Susana Félix, e Viviane.

Depois de ouvir o CD duas vezes completas a caminho de Lisboa, fixei-me numa delas e dei por mim a fazer o mesmo percurso dois dias seguidos a ouvir a mesma música. Uma espécie de inexplicável vício mental.
Foi então que percebi que este vício mental é comum a alguns seres.

Lembrei-me de uma tarde - há uns 7 anos atrás - em que quase enlouqueci. Ou melhor o departamento quase enlouqueceu quando o nosso chefinho resolveu pôr a tocar “solta-se o beijo” da ala dos namorados em repeat, com a agravante de termos feito serão nesse dia. Durante meses não conseguimos sequer pensar em “solta-se o beijo o gato mia”.

No caso da “Rua da Saudade” apenas “o I, o me, e o myself” são presenteados com a repetição do poema que transcrevo. Cada vez que se ouve compreende-se melhor a intensidade da letra, ao mesmo tempo que é interessante apercebermo-nos da dinâmica de vozes. Sente-se que a voz brasileira sorri ao cantar, enquanto a portuguesa sofre…

Canção do Tempo
Para um tempo que fica doendo por dentro e passa por fora
Para o tempo do vento que é o contratempo da nossa demora
Passam dias e noites, os meses, os anos, o segundo e a hora
E ao tempo presente é que a gente pergunta: E agora?, E agora?

Tempo para pensar cada momento deste tempo
Que cada dia é mais profundo e é mais tempo
Para inventarmos outro tempo menos lento

Tempo dos nossos filhos aprenderem com mais tempo
A rapidez que tem de ser o pensamento
Para nascer, para viver, para existir
E nunca mais verem o tempo fugir

Ai o tempo constante que a cada instante nos passa por fora
Este tempo candente que é como um cometa com laivos de aurora
É o tempo de hoje, é o tempo de ontem, é o tempo de outrora
Mas o tempo da gente é o tempo presente, é agora, é agora

Tempo para agarrar cada momento deste tempo
Interminável e absoluto rasgo o tempo
Num temporal com os ponteiros do minuto

Tempo para o relógio bater certo com a vida
De um homem bom, de um homem são, de um homem forte
Que da chegada conseguir fazer partida
E que desperta adiantado para a morte

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Pior que o elementar pano de lustro…

O pano de lustro, trivialmente conhecido por “engraxador”, é uma espécie vulgar e patética.

Porém, se à típica figura juntarmos uma pitada de cinismo e outra de miserabilismo obtemos um pano de lustro genuinamente tóxico.

É o verdadeiro ser capaz de personificar as lágrimas de crocodilo, pois como se sabe ao comerem as suas presas os crocodilos fazem pressão nos sacos lacrimais e por isso vertem lágrimas.

Alguém que sob a capa de benfeitor esconde um génio diabólico e dissimulado. Alguém que diz que sim a tudo com um sorriso prestável e cuja voz interior grita lá dentro “podes esperar sentada, que em pé ganhas raízes”.

O pano de lustro perigoso não discute, dá a outra face. Não diz asneiras, nem nomes feios. Chama querida a toda a gente. É uma maçã de pessoa….sim tal qual a maçã da Branca de Neve… maravilhosa por fora e venenosa por dentro.

Ao contrário do simples pano de lustro que tenta apenas agradar a superiores hierárquicos, o pano de lustro de primeiro grau é mais letal porque encerra o dobro dos requintes de malvadez.

Cuidado com os panos de lustro… usem sempre um espelho retrovisor que vos permita manter as costas sobre alerta!!!

domingo, 22 de novembro de 2009

Ruínas e artefactos na Baixa Pombalina

As galerias romanas da baixa pombalina fazem parte do imaginário não só de quem gosta de história, mas de muitos curiosos.

Estão abertas ao público apenas uma vez por ano, atendendo a que se encontram com um elevado nível de água, cuja bombagem sistemática, para além de ser um processo moroso levantaria problemas de conservação aos edifícios circundantes.

Quem tem interesse em descer às profundezas da baixa, mas cujo espírito de sacrifício é muito pouco vincado, pode fazê-lo com data marcada.

O Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros (NARC), proporciona visitas guiadas às ruínas romanas descobertas em 1991.

Depois de descer é só dar asas à imaginação, que vai sendo orientada pelas curiosidades e explicações da guia.

É interessante ver como os períodos históricos se cruzam. Por entre vestígios de construções habitacionais do séc. VII aC, vemos poços criados no séc. XVIII por Marquês de Pombal para minimizar novos riscos de incêndio, misturados com a beleza dos mosaicos romanos, e com um esqueleto que não foi retirado do local… Vêem-se ainda as míticas estacas de madeira sobre as quais toda baixa está assente – desde a Praça do Comércio até aos Restauradores.

Bem vistas as coisas somos apenas mais uma geração que alegremente vai vivendo pelas ruas de Lisboa… sem dúvida "na natureza nada se cria, nada se perde [simplesmente] tudo se transforma".

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

"Simplicidade" de género


Desmistifique-se o mito (perdoem-me a redundância) de que as mulheres são complicadas. Nós somos os seres mais simples da galáxia. Os homens é que têm fraca capacidade interpretativa.

Ainda admito que possamos ser comparadas às letras pequeninas dos contratos, mas está tudo lá... Mesmo aquela cláusula especial e surpreendente que se pensava não existir.

É o contacto permanente com o sexo masculino que por vezes nos faz sentir alienígenas.

Como é que não compreendem:
> Que nos sintamos sempre com umas gramas a mais?
> Que não consigamos parar de comer bolos, chocolates, gelados e batatas fritas?
> Que compremos roupa compulsivamente?
> Que nunca tenhamos nada para vestir?
> Que usemos sapatos desconfortáveis?
> Que olhemos insistentemente para os primeiros pés de galinha?
> Que queiramos ficar em silêncio de vez quando?
> Que queiramos falar até à rouquidão outras tantas vezes?
> Que passemos horas ao telefone?
> Que nos desloquemos aos pares ou em tríades à casa de banho em eventos?
> Que queiramos ser compreendidas sem ter de explicar sempre tudo, porque afinal uma meia palavra ou um olhar de soslaio diz mais que uma palavra inteira? ...

O existencialismo explica: É a nossa natureza!

Ps. Características como o ciúme, a possessividade, a mania das arrumações, a meticulosidade e outras tantas não se incluem no espírito desta teoria, mas de outras que se prendem com gestão de emoções e comportamentos humanos inerentes a ambos os sexos.

sábado, 14 de novembro de 2009

No fundo do baú

Toda a gente devia ter uma caixinha de recordações. Uma daquelas caixas quase secretas que escondemos ou deixamos que passem despercebidas por estarem tão à vista.

Um dia por acaso ao remexer noutras coisas damos com ela. Então abrimos e redescobrimos uma série de pormenores dos quais não nos lembrávamos. Uma moeda, um postal, uma concha, um bilhete, um anel, uma fotografia….

Toda a gente devia ter uma caixinha de cartas. Daquelas que se mandavam pelo correio, que demoravam 5 dias a chegar, que metade escrevíamos em código para que não pudessem ser percebidas por mais ninguém. Páginas e páginas com uma caligrafia infantil e com histórias impagáveis.

Um dia por acaso damos com ela e sorrimos largamente com as aventuras. Olhamos para os selos, e para os amigos que tínhamos na altura. Muito vezes o fluxo informativo coincidia com período pós férias de Verão….

Mais ainda todos nós devíamos de ter um diário ou uma pasta com os textos que escrevemos na adolescência ou idade pré-adulta, guardada algures entre uma série de outros papéis.

Um dia por acaso pegamos neles e encontramos um poema:

O MAR VISTO P’LOS OLHOS DE UM CEGO
Fresco, salgado…
Cada gota que me toca na pele faz-me corar.
Não o vejo. Mas posso senti-lo…
Dizem-me que é azul. Eu não sei o que é azul, mas estou certo de que azul é vida, é magia, é conforto.
Toquei-lhe. Um arrepio invadiu-me todo o corpo, senti-me a flutuar.
Cerrei os olhos com mais força, “quero imaginá-lo”, dizem que começa em nós e não tem fim, que nele marcamos o nosso horizonte e por mais que caminhemos o horizonte não muda.
Mergulhei, entrei nele, sinto os pés a enterrarem-se na areia e sinto que ele me possui.
A praia parece deserta pois só oiço o rebentar das ondas e a voz que me conduziu até aqui,
Pedi-lhe que se calasse, que me deixasse “ver”.
Na minh’alma não há cores mas estou certo que é bem mais rica e fantasiosa do que muitos daqueles que se julgam perfeitos.
Envolvi-me no som da rebentação, e dancei com o vento, que me sussurrou ao ouvido.
Não conseguia parar, até que caí no chão rindo-me a gargalhadas soltas.
O vento continuou a soprar, as ondas a rolar, mas algo mudou…
Disseram-me que o sol se estava a pôr, que era como uma bola de fogo que se apagava no mar. No entanto, não tinha cheiro, nem som, nem emanava calor… Foi aí que chorei.


Escrito a 3 de Fevereiro de 1998 - 1º ano da faculdade. Encontrado a 14 de Novembro de 2009 enquanto procurava uns papeis do IRS.


Ps. Não posso deixar de fazer uma alusão ao Fabuloso Destino de Amélie Poulain, onde se encontra a ilustração perfeita da importância de uma caixa de recordações.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O nosso Idéiafix


O cão mascote da aldeia do Asterix, o Idéiafix, faz parte do nosso imaginário. Em pequenos limitamo-nos a achá-lo “fofinho”, quando crescemos acabamos por perceber que este personagem é parte integrante da nossa vida. Passo a explicar.

O nome provém do francês ideé fixe que é como quem diz ideia fixa. Facilmente se percebe o porquê da analogia.

Por vezes cegamos com as nossas próprias ideias, queremos porque queremos – seja lá aquilo que for - sem olhar a meios, consequências, ou figuras impróprias…

O Idéiafix que há dentro de cada um de nós manifesta-se nas mais diversas ocasiões. Quando queremos comprar aquela nova tecnologia que nos faz mesmo falta, ou aquele parzinho de sapatos sem o qual não conseguiríamos voltar a andar… mesmo que a tecnologia nos deixe na banca rota e os sapatos sejam tão altos que tenhamos de parar a cada metro.

Quando nos dizem para irmos para a direita e resolvemos ir para a esquerda porque achamos que é um atalho e acabamos atolados numa estrada de areia.

O Ideiafix materializa-se no nosso lado irreflectido, pouco ponderado e até mesmo irracional que por vezes se apodera das nossas atitudes. É assim porque é… e venham-nos lá dizer o contrário.



Nota: O Asterix e os seus amigos completaram uns divertidos 50 anos de existência no dia 29 de Outubro de 2009.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Ficar sem travões

Às vezes percebemos que já não há nada a fazer. Carregamos no travão e o carro não reage… num ápice Záaassssssss espetamo-nos na parede mesmo à nossa frente. Para prevenir a situação bastaria ter ido à revisão.

Acabei de bater numa parede. Pior do que não responder a uma pergunta é dizer um impropério de fazer arrepiar uma alma penada… e entrar para as estatísticas das piadas tenebrosas que ouvimos os professores contarem anos a fio.

Em 2000 o Sousa Lara foi meu professor de ciência política, um dos seus divertimentos era anotar os disparates que lia nos testes, e levá-los numa folha para partilhá-los com a turma. Não se limitava a ler, mas ilustrava a história com a reacção que tivera ao corrigir… lembro-me de algo a propósito do fim das ideologias, em que um aluno se referira aos “ketchup parties” em vez de “catch all parties”…

Por muita graça que tivessem os comentários não partilhavamos a alegria do docente, estavamos mais preocupados em perceber quando é que ia chegar a nossa vez...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Ir vivendo… ou comecem a procurar os vossos amantes

Há dias enviaram-me um texto que inicialmente me recusei a ler. “Procura-se um amante”… o meu primeiro pensamento foi “ raios estes homens só pensam em mulheres e em relações ilícitas” … e o texto foi direitinho para os itens eliminados.

Claro que o meu desagrado foi expresso em email posterior. E a resposta não se fez esperar “Pois então devias mesmo ler. A palavra “amante” não encerra apenas o termo estrito da questão, mas sim aquilo que nos leva a viver com alegria e vontade.”.

Rendi-me ao argumento e li o artigo. Nunca é demais absorver coisas que nos possam inspirar… Deixo assim um excerto… e já se viu que corroboro com a opinião do autor “comecem a procurar os vossos amantes”!

PROCURA-SE UM AMANTE
Amante é "aquilo que nos apaixona". É o que toma conta do nosso pensamento antes de adormecermos, e é também aquilo que, às vezes, nos impede de dormir. O nosso Amante é o que nos mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa volta. É o que nos mostra o sentido e a motivação da vida.

Às vezes encontramos o nosso amante no nosso parceiro, outras vezes, em alguém que não é nosso parceiro, mas que nos desperta as maiores paixões e sensações incríveis. Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica ou na literatura, na música, na política, no desporto, no trabalho, na necessidade de nos transcendermos espiritualmente, numa boa refeição, no estudo, ou no prazer obsessivo do nosso passatempo preferido...

Amante é "alguém" ou "algo" que nos faz "namorar" a vida e nos afasta do triste destino de "ir vivendo". E o que é "ir vivendo"?

"Ir vivendo" é ter medo de viver. É vigiar a forma como os outros vivem, é o deixarmo-nos dominar pela pressão, andar por consultórios médicos, tomar remédios multicoloridos, afastarmo-nos do que é gratificante, observar decepcionados cada ruga nova que o espelho nos mostra, é aborrecermo-nos com o calor ou com o frio, com a humidade, com o sol ou com a chuva.

"Ir vivendo" é adiar a possibilidade de viver o hoje, fingindo contentarmo-nos com a incerta e frágil ilusão de que talvez possamos realizar algo amanhã.

Acreditem que o trágico não é morrer, porque afinal a morte tem boa memória e nunca se esqueceu de ninguém. O trágico é desistir de viver, por isso, e sem mais delongas, procurem um amante.

Jorge Bucay - Psicólogo

domingo, 8 de novembro de 2009

Reclamar… se possível com classe

Quem nunca experimentou a sensação de escrever num livro de reclamações não sabe o que está a perder.

Reclamar faz-nos sentir poderosos, como se subitamente o motivo da nossa irritação deixasse de ser só nosso. O livrinho tem este poder deixar o dono do mesmo tão irritado quanto nós.

Mas é preciso saber reclamar. Respirar fundo algumas vezes. Sorrir outras tantas e quando menos se espera, naquele momento em que pensam que nos vamos ficar pela indignação… vem a frase “por favor traga-me o livro de reclamações”.

Alguns ainda tentam dissuadir-nos… mal sabem que é tarde…. Quando a frase é proferida, na nossa cabeça já se resolveram todas as questões e incertezas quanto à reclamação. Simplesmente deixamos levar-nos pelo desejo e cumprimos o direito de reclamar.

Quando nos estreamos a emoção é mais forte. A verdade é que o coração palpita e os ânimos se agitam. Pomos um ponto final no texto. Recebemos um duplicado. Saímos do local ainda enraivecidos, mas com a sensação de justiça e liberdade.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Quem nunca se confrontou com um Chico (Esperto) levante o braço!

Os Chicos Espertos são figurinhas quotidianas, que normalmente irritam grandes percentagens dos demais indivíduos obrigados a conviver com eles. São tipos (ou tipas) que querem parecer inteligentes e ter uma palavra sobre tudo… porque se consideram iluminados. Muito embora a opinião pública seja bem diversa da opinião do Chico.

O Chico acha que diz coisas acertadas. Gosta de intervir sem razão de ser. Gosta de se ouvir. Às vezes é realmente conhecedor de alguma coisa, mas a sua ânsia de protagonismo retira-lhe qualquer hipótese de brilhar.

Em todas as turmas há um Chico. Qualquer que seja a idade ou o credo. São uma espécie de melgas num quarto às escuras que todos ouvimos zumbir sem as conseguir calar.

Nos locais de trabalho existem Chicos semelhantes. Ansiosos por darem nas vistas têm sempre resposta, e sentem-se os mais engraçados. Têm de ter piada e uma última palavra a dizer. Não admitem rivais. Muitas vezes, por trás da sua capa de Chicos sem papas na língua são tipos perigosos...

Também os há de outros géneros: o que se põe à frente na fila de atendimento; o que se senta no lugar reservado a velhinhos e fica a olhar para a janela a disfarçar; o que compra comida feita e recebe elogios como se fosse um óptimo cozinheiro sem confessar que o mérito não foi seu; o que passa nas portas do metro colado à pessoa da frente para não ter de pagar bilhete, etc, etc, etc…

Estes são Chicos menores… pois vemo-los apenas o tempo suficiente para nos apercebermos da sua Chiquice. Quanto aos outros….!

domingo, 1 de novembro de 2009

O trintinho e o trintão


Pois é cá cheguei ao clube dos trinta! Sou aquilo a que se pode chamar de trintinha. Exactamente. Há dois espécimes de trintas. Os trintinhas que se encontram no intervalo de idade entre os 30 e os 34. E depois temos os trintões entre os 35 e os 39.

Não podemos confundi-los. Os trintinhas têm a ilusão de que ainda têm toda a vida pela frente. Que agora sim é altura de dar os mais variados passos contra a inércia. Acreditam que já aprenderam muita coisa e que são crescidos. Apercebem-se (ligeiramente) que ainda têm muito de adolescentes e que ao invés de corrigirem certos defeitos, estes se acentuaram ao longo dos anos. Mas ainda têm esperança e acreditam nos desejos que pedem nas passas de ano novo.

Desacreditados da justeza da natureza e do destino, alguns trintinhas voltam-se para os astros e para o oculto. Para o poder enérgico dos incensos e das cartas de tarot disponíveis num site credível da internet. Lêem ensinamentos de feng shui. Alguns abrem o livro das respostas cada vez que têm uma dúvida. Pode dizer-se que são miúdos com as primeiras ridulas no rosto.

Os trintões distinguem-se dos primeiros por serem verdadeiramente maduros. Começam a caminhar rumo à crise da meia idade. Apercebem-se se têm ou não uma carreira. Se têm ou não uma família. Se têm ou não uma casa. E sobretudo de que já não são crianças. A percepção que têm de si muda radicalmente, e fazem planos para o futuro (quase) como se não houvesse amanhã.

Nesta fase os trintões juntam cumulativamente o descrédito na natureza, no destino e no oculto. Mandam as energias à fava e voltam a pensar no lado pragmático da vida. Deixam de querer mudar defeitos, e passam a considerar que se são assim os outros só têm de os aturar. Note-se que os irritadiços estão cada vez mais irritadiços, os nervosos cada vez mais nervosos, os tímidos cada vez mais tímidos…. E por aí fora.

E vem-me à memória uma frase batida “Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida”.

sábado, 31 de outubro de 2009

Nevoeiro

Os elementos da natureza fazem-me sentir bem. Deve ser uma espécie de conexão que estabeleço com energias superiores. Gosto de um dia de sol, mas mais do que torrar na praia, gosto de um dia de sol de Inverno.

A luz dos relâmpagos fascina-me, em especial acompanhada por uma chuva intensa. Aí fico do lado de dentro da janela, com tudo apagado a olhar a rua. Deixo apenas uma fresta aberta para sentir o vento frio. Incrível como às vezes um apagão a meio da noite nos dá a sensação de regresso à fase primitiva do nosso ser … e à vulnerabilidade perante os elementos.

O nevoeiro é um desses cenários de que gosto. Pelo mistério. Pela dúvida. Pelo enigma. Por caminhar nos mesmos sítios com a percepção de que são outros. Tudo é igual mas tudo parece diferente.

Trata-se de uma espécie de ilusão. Como se fossemos num sonho que só acaba com o raiar do sol.
É por isso que D. Sebastião regressaria num dia de nevoeiro. Quando menos se esperasse, surgiria por entre a neblina trazendo de novo a esperança.

Creio que o adore por ser místico. Não o encaro como soturno ou negativo. Pelo contrário é uma espécie de outra dimensão. Diferente, envolvente, misterioso, perigoso, solitário, e acolhedor porque nos abraça….

NEVOEIRO: O nevoeiro é uma nuvem stratus cuja base está no solo ou perto dele reduzindo até 1 quilómetro de distância. Os nevoeiros diferenciam-se das nuvens porque ocorrem junto à superfície. São humidade condensada perto do solo, em forma de depósito.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Rescaldo futebolístico num país de "rafeiros"

Não sou particular adepta de jogos de futebol, mas sou adepta do bom humor.

Nada melhor para animar uma manhã passada na fila de trânsito, do que a audição de alguns episódios de movimentações do homem em sociedade. Falo em concreto das vozes dos homens do futebol depois do Benfica – Nacional (6-1).

Assim deixo duas declarações deliciosas:

"Na vida um vintém é sempre um vintém e um cretino é sempre um cretino", Manuel Machado, treinador do Nacional, dirigindo-se a Jorge Jesus.

“Portugal é um país de rafeiros, mas um presidente de um clube ainda é um presidente de um clube”- declarações de um jogador de quem não fixei o nome...

Se bem entendi o que o jogador quis dizer foi que apesar de rafeiro um presidente de um clube ainda tem umas "pinceladas" de pedigree que lhe dão um certo estatuto.

Ou será que este queria dizer que Portugal é um país de rafeiros do alentejo?

É outra interpretação provável... afinal de acordo com o Estalão Oficial da Raça, os rafeiros do alentejo são: excelentes guardas das herdades e quintas do Alentejo, cães de guarda de rebanhos de muito préstimo, menos vigilantes durante o dia, mas agressivos para com os desconhecidos.

Bem vistas as coisas não posso deixar de subscrever a ideia. Portugal é um país de rafeiros a começar pela classe futebolística... !

domingo, 25 de outubro de 2009

Desencontros/Escolhas

Extravios, descaminhos, desvios… a clássica referência às vicissitudes do destino.

Os desencontros criam cenários repletos de “ses”. Deixam a imaginação livre para pensar no que teria acontecido se tivéssemos encontrado aquela pessoa naquele local, se tivéssemos passado naquela estrada alguns segundos antes, se tivéssemos respondido de forma diferente a uma entrevista de emprego.

Se todas essas coisas tivessem acontecido de forma diferente também nós seriamos diferentes. Os desencontros vão determinar as escolhas que definem as pessoas, e a cada “se” determinamos o próximo passo, seja qual for a esfera da nossa vida.

Deixo duas letras de desencontros, das quais gosto particularmente.

Afinal qual é o tempo certo para fazer a escolha certa? Até que ponto andamos nós próprios desencontrados das nossas opções?


A NOITE PASSADA
A noite passada acordei com o teu beijo/ Descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo/ Vinhas numa barca que não vi passar/ Corri pela margem até à beira do mar/ Até que te vi num castelo de areia/ Cantavas "sou gaivota e fui sereia"/ Ri-me de ti "então porque não voas?"/ E então tu olhaste/ Depois sorriste/ Abriste a janela e voaste.

A noite passada fui passear no mar/ A viola irmã cuidou de me arrastar/ Chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo/ Olhei para baixo dormias lá no fundo/ Faltou-me o pé senti que me afundava/ Por entre as algas teu cabelo boiava/ A lua cheia escureceu nas águas/ E então falámos/ A então dissemos/ Aqui vivemos muitos anos.

A noite passada um paredão ruiu/ Pela fresta aberta o meu peito fugiu/ Estavas do outro lado a tricotar janelas/ Vias-me em segredo ao debruçar-te nelas/ Cheguei-me a ti disse baixinho "olá"/ Toquei-te no ombro e a marca ficou lá/ O sol inteiro caiu entre os montes/ E então olhaste/ Depois sorriste/ disseste "ainda bem que voltaste".

Música e Letra - Sérgio Godinho


DESENCONTRO
Se ela pressentisse/ O olhar que me devolve /As ânsias sem idade /Os olhares ao espelho sem piedade /A verdade foge trémula e sem serenidade

Se ele sentisse/ Só por uma vez/ Que paro quando fala /Que rio quando olha /E coro quando é para mim /E quero que me agarre

Ela nem imagina / Ele nunca me vai ver/ Volto a cruzar-me com ela/ Fingindo não o ver/ E por isso nunca/ Ele nunca vai saber/ O quanto eu te quero

Ela vai rir-se quando lhe contar/ Que um dia quis dar-lhe o mundo / Mas não a soube chamar/O seu cheiro passa solto /E leve como o ar

Ele vai ter um sonho por guardar /O tempo não tem escolha/ E a alma passou longe/Adeus! Será que é Adeus?/ Eu não te perco mais

Interprete Luís Represas e Simone, letra Margarida Pinto Correia

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Uma nova perspectiva sobre o burro e a cenoura

Recordemo-nos a imagem do burro atrás da cenoura. O burro anda e continua a andar atrás da sumarenta e suculenta cenoura, que é como quem diz atrás dos seus objectivos.

Os pessimistas dirão que é mesmo asno, em sentido substantivo e adjectivo. Persegue o inatingível, pois cada vez que tenta mordê-la, ela afasta-se de si. E mesmo assim não desiste perdendo tempo e esforçando-se em vão.

Os optimistas dirão que o burro caminha atrás do sonho, e que só persegue essa meta porque já conhece o sabor daquele delicioso legume. O burro já conhece o sabor da vitória e fará de tudo para voltar a alcançá-la.

Quando a viagem acabar o dono dará a cenoura ao burro, e colocará outra na ponta da vara para a próxima jornada. Mas essa já será uma cenoura nova, que é como quem diz um novo objectivo, um novo desafio…

De burro e de louco todos temos um pouco. Às vezes um pequeno estímulo pode-nos fazer simplesmente relembrar que somos poderosos e capazes.

domingo, 18 de outubro de 2009

O poder da gargalhada

Haverá algo melhor no mundo que uma boa gargalhada?

Rir regenera o corpo e a alma. Além disso faz-nos perceber o grau de cumplicidade que temos com os outros.

Um riso profundo daqueles que passam do rosto, para o peito, do peito para o abdómen, e que nos impede de falar de respirar e de pensar por uns momentos é algo valioso que não se partilha com qualquer um.

Trocamos sorrisos e momentos de humor moderado com as mais infinitas pessoas. Mas uma boa gargalhada louca, essa é reservada às pessoas queridas com quem temos afinidades em determinadas áreas e por isso têm capacidade de rir das mesmas coisas que nós.

Partilhar uma gargalhada é algo genuíno. Somos nós próprios. Encontrar alguém com o mesmo sentido de humor é meio caminho andado para uma amizade.

Fica a curiosidade. Na Idade Média o riso é condenado, está do lado do demónio. Do séc. IV ao séc. X o riso é sufocado. O corpo é dividido em partes nobres (cabeça e coração) e ignóbeis (ventre, mãos e sexo). O riso vem do ventre, percorre o corpo vindo das partes baixas, passa do peito para a boca. A boca deve ser um ferrolho, os dentes uma barreira que deve conter o fluxo de insanidade que o riso pode veicular. Veja-se uma das regras de Columbano “aquele que rir à socapa no ofício será punido com seis chibatadas. Se rir às gargalhadas fará jejum, a menos que tenha rido de forma perdoável”. O riso de quem tem siso é apenas o sorriso.

Mas convenhamos…rir com o dentinho de fora faz-nos sentir tão bem…

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A estupidez...

Haverá algo pior do que nos sentirmos estúpidos? Do que o peso de nos sentirmos ridículos? Et voilá como não conseguimos separar a cabeça do corpo, o sentimento perdura… e perdura. Haverá lago mais cretino do que escolher as duas perguntas de menor cotação num teste de escolha múltipla?

Será o reconhecimento da nossa própria estupidez sinónimo de inteligência?

Honestamente soa-me a pergunta retórica para justificar o injustificável. A estupidez faz parte da natureza humana, por muito que tentemos fugir dela mais cedo ou mais tarde ela acaba por aparecer.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A democracia do tempo

Haverá algo mais equitativamente distribuído pelo criador do que o tempo?

24h são 24h.
Independentemente do local do globo, da raça, do credo, do estrato social. Um dia é um dia. Agora cada um soma à sua à vida as actividades que quer ou pode neste tempo.

Considero que não há tempo verdadeiramente livre. Os segundos de cada dia estão afectos à existência, seja qual for a tarefa. Comemos, dormimos, lêmos, damos um passeio no campo, andamos de bicicleta, tomamos café com os amigos, vegetamos na sala a ver televisão, vemos séries sem conteúdo, vemos documentários de qualidade… Podemos chamar a isto tempos livres???

Livres porquê? Estamos presos ao tempo desde o momento em que fomos concebidos. E só terminamos esta relação no momento em que morremos.

Achamos que são livres porque temos a opção de escolher, porque transcendem a obrigatoriedade perante outros. São momentos em que as nossas acções prestam apenas contas a nós próprios.

Mas ele não pára! Estejamos deitados, a meditar ou a correr num paredão, as voltas no relógio continuam o seu percurso.

E vivemos aprisionados em rotinas que tornam mais veloz o tic tac noutras sociedades tão lento. É tudo uma questão de perspectiva.

Sempre admirei aqueles que dizem ter tempo para tudo. Gostava de ser como eles. Talvez seja apenas uma questão de escolha. A expressão não tenho tempo devia ser abolida, porque não é disso que trata, mas sim da gestão que fazemos da nossa própria história.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O cérebro feminino – Parte I

O cérebro feminino é um livro da neuropsiquiatra americana Louann Brizendine. Diria que satisfaz uma série de curiosidades acerca das diferenças fisiológicas entre homens e mulheres, que têm na verdade fortes repercussões comportamentais.

Vou deixando algumas passagens que me parecem interessantes. Embora muito à laia do “sabia que”, farão de certeza um brilharete em qualquer conversa no âmbito da guerra dos sexos!

1- O cérebro dos homens é cerca de 9% maior que o das mulheres, mesmo tendo em conta as dimensões corporais. No entanto, o número de células cerebrais é igual nos homens e nas mulheres. O que acontece é que nas mulheres surgem mais compactadas, apertadas num crânio mais pequeno, como se fosse um corpete.

2 -As hormonas têm o poder de determinar aquilo que o cérebro está interessado em fazer. Cada estado hormonal – infância, adolescência, idade do namoro, maternidade e menopausa - actua como fertilizante para diferentes conexões neurológicas que são responsáveis por novos pensamentos, emoções e interesses.

3 -As mulheres são capazes de recordar os pormenores mais íntimos dos seus primeiros encontros amorosos e das discussões mais acesas, ao passo que os maridos mal se recordam dos acontecimentos. A química e a estrutura cerebral são responsáveis por isso.

4- Nas áreas cerebrais destinadas à fala e à audição as mulheres dispõem de mais 11% de neurónios que os homens.

5- Os homens têm um volume cerebral duas vezes e meia maior no que respeite ao apetite sexual, assim como também é maior o espaço dos centros destinados à acção e à agressividade.

6 – Os homens dispõem de um processador de maiores dimensões no núcleo primitivo de cérebro que regista o medo e desencadeia a agressão – a amígdala.

Continua...

domingo, 11 de outubro de 2009

Coisas parvas que se escrevem quando se está apaixonado

Sei que te amo…
Porque o coração se agita devagar
E no estômago sinto um nó
E borboletas a voar

E nos olhos tenho o brilho
De um diamante polido
E na boca o sabor
De uma bola de gelado

Nos pés tenho molas
Que me fazem saltar quando te vejo
Nas pernas flechas que disparam para te alcançar

No espírito tenho-te a ti
No corpo tenho-te a ti.

Escrito algures em 2008

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Fénix

Há uns anos criei um blog com o mesmo nome que este. Deixei de escrever nele e a memória atraiçoou-me, fazendo com que me tivesse esquecido da password. Nesse blog escrevi um pequeno texto com o nome de “Qual Fénix…”, apenas duas frases e uma definição, que agora me parecem depressivas!

A definição continua a mesma. Mas os comentários mudaram. Renascer é a capacidade de reciclar o que foi mau, aproveitar a hipótese de construir algo de novo e abraçar novos projectos com a maturidade que só a experiência de vida pode trazer. Em cada ano e em especial em cada década há que aproveitar a Fénix que brota transformada.

FÉNIX - Pássaro mitológico que ao morrer entrava em auto-combustão. Algum tempo depois renascia das próprias cinzas. Acreditava-se que a Fénix durava centenas de anos, pelo que a sua vida longa e o seu dramático renascimento transformaram-na em símbolo da imortalidade e do renascimento espiritual.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A Preguiça

Sinto-me invadida por uma tremenda preguiça. Daquelas a que regularmente damos o nome de preguicite (hiper) aguda.

Esta não é apenas uma preguiça pura e dura, um pecado mortal… ela é muito mais que isso: tem umas pitadas de letargia, outras tantas de melancolia. Quem sabe será uma preguiça de explicação hormonal… sim, para nós as mulheres tudo tem uma explicação hormonal… tudo é demasiado intenso…

Estou com preguiça cerebral e corporal. O cérebro não pensa… o corpo não mexe…

Hino à preguiça

Meiga Preguiça, velha amiga minha,
Recebe-me em teus braços,
E para o quente, conchegado leito
Vem dirigir meus passos.

Ou, se te apraz, na rede sonolenta,
À sombra do arvoredo,
Vamos dormir ao som d'água, que jorra
Do próximo rochedo.
(...)
Tudo a dormir convida; a mente e o corpo
Nesta hora tão serena
Lânguidos vergam; dos inertes dedos
Sinto cair-me a pena.

Mas ai!... dos braços teus hoje me arranca
Fatal necessidade!...
Preguiça, é tempo de dizer-te adeus,
Ó céus!... com que saudade!

Bernardo Guimarães
Poeta e romancista brasileiro > 1825-1884

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Síndrome do Conto de Fadas

Olhemos de relance para as histórias de amor que nos foram contadas na infância.

Comecemos pela Branca de Neve, uma menina muito alva e bonita cuja madrasta fez o favor de afastar do reino para eliminar a concorrência. Não satisfeita em tê-la ostracizado ainda lhe deu uma maçã envenenada que a fez entrar em coma. Mas eis que chega o final feliz, o príncipe aparece, beija-a, a maçã solta-se da garganta. Branca de Neve acorda e vivem felizes para sempre.

No que toca à bela adormecida a rapariguita pica-se numa roca de fiar quando fez 16 anos, porque a sua fada madrinha se irritou com os seus pais e decidiu castigar a menina dando-lhe o sono eterno. A ela e ao resto do reino. Passados cem anos aparece um príncipe que a beija e a desencanta. Bela Adormecida acorda e vivem felizes para sempre.

Depois vem Cinderela, também conhecida por Gata Borralheira. Completamente explorada pelas feiosas das enteadas e da madrasta. Impedida de ir ao baile (com a ajuda da fada lá foi embora tivesse fugido às 12 badaladas) e trancada num sótão para que não experimentasse o sapatinho de cristal. O seu pé perfeito lá foi descoberto e entrou no stiletto. O príncipe reconhece-a como o amor da sua vida e vivem felizes para sempre.

Seguem-se a Bela e o Monstro, a Rapunzel, a Princesa e a Ervilha, etc, etc, etc… E não venham com a história do Shrek. A Fiona decide ser ogre, mas não é por isso que deixa de se casar na flor da idade e de ser feliz para sempre!!!!

A ideia continua a ser perpetuada com centenas de comédias românticas cujo final não é difícil de adivinhar ainda antes de se conhecer o enredo.

Mediante este panorama, seria difícil não ter criado uma legião de mulheres que temem ser vistas como uma espécie de seres alienados quando por algum motivo nesta encarnação não se conseguem compatibilizar com alguém pelas mais diversas razões.

Não nos esqueçamos que a vida é uma sucessão de etapas que nos levam ao desenvolvimento pessoal. Reinventem-se os clássicos e poupem-se horas de terapia às futuras gerações de mulheres!

PS. Este texto não exclui a ideia de que o Amor é um estado de plenitude, apenas pretende sublinhar que encontrar o Amor não deve ser perseguido, mas algo inesperado. Simplesmente acontece sem data marcada… E se não acontecer é porque não tinha que acontecer…

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O ruído dos vizinhos

As cidades e vilas estão repletas de prédios com vários andares. Em cada andar vive um vizinho. Um vizinho: giro; simpático; esquisito; que tem um cão; que passa o dia à janela; que sacode freneticamente toalhas e tapetes na varanda; que faz questão de partilhar a ementa do dia, com especial destaque para o peixe assado. E um vizinho ruidoso…

O vizinho/vizinha ruidoso é sem dúvida o pior espécime que pode residir num prédio. Em especial se esse espécime habita directamente por baixo, por cima ou ao lado do nosso apartamento.

Estas criaturas são por norma dadas à exteriorização de emoções fortes. Eles discutem, gritam, arrastam a mobília noite e dia. Alguns deixam cair berlindes. Há ainda aqueles mereciam ser assinalados com uma bola vermelha no canto superior direito da porta em algumas horas do dia/noite.

Também há os que gostam de partilhar o seu gosto musical com todo o prédio. Nesta categoria por vezes inserem-se os vizinhos surdos cujo volume da televisão permite dar a conhecer as suas preferências televisivas a alguns andares do edifício. Os vizinhos com crianças, indirectamente, vêem-se categorizados como ruidosos dadas as dificuldades de silenciarem os pulmões dos bebés que choram, em particular no período da noite.

Muitas vezes os vizinhos ruidosos provocam reacções menos simpáticas nos vizinhos serenos. Quando estes procuram o silêncio para se concentrarem em algo importante, têm de sistematicamente ouvir o gritos de quem não sabe falar mas comunica com os decibéis bem acima do que o ouvido humano consegue suportar. Quando tentam combater uma noite de insónia, o vizinho ruidoso faz questão de mostrar que continua a haver vida no prédio.

Estes serenos sentem-se muitas vezes tentados a pegar em objectos e projectá-los contra as paredes que os separam dos vizinhos ruidosos.

É noite. Oiço o barulho do portátil. Oiço “perfeito vazio” dos xutos… um momento sonoro completamente controlado… eis que entra uma variável independente: o eco de uns saltos altos a passar na calçada.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Quem tem medo da obsessão?

Quantos de nós já não nos deparamos com uma catadupa de pensamentos intrusivos, repetitivos e persistentes… uma vozinha interior que não se cala e que abafa cada rasgo de lucidez e racionalidade que a tente contrariar.

Por vezes essas vozinhas são tão repetitivas que não se deixam derrubar, sequer por uma boa noite de sono… pois a verdade é que na maioria das vezes não nos deixam pregar olho.

Inquietante, perturbadora, obsessiva. Perdemos a capacidade de análise e de abstracção tudo converge para o mesmo ponto. Desagradável, confrangedor, inultrapassável. Mesmo que nos esqueçamos dela por um milésimo de segundo… a vozinha torna a atacar.

Pois a verdade é que a vozinha emana dos nossos medos. Dos julgamentos que fazemos de nós próprios e das expectativas que criamos sobre a nossa própria actuação. Isto é válido para os mais diversos temas: paixão, vingança, dinheiro (ou falta dele), trabalho, beleza, jogo, desporto, casamento, homens, mulheres…

Falamos do mesmo vezes sem conta, já nem nós próprios nos podemos ouvir… achamos que estamos a enlouquecer.

Seja como for há sempre um problema que aparentemente não tem solução. Será que não tem mesmo?

Vejamos as palavras cruzadas. Das duas uma ou a solução está de pernas para o ar aparentemente ilegível, ou vem na edição seguinte do jornal. É só uma questão de tempo …
(bem ajuda se tivermos alguma capacidade de colocar uma mordaça na voz enquanto esse tempo não chega!!!)

domingo, 13 de setembro de 2009

Um poema na carteira

Há alguns anos imprimi o "Depoimento" de Miguel Torga e passei a trazê-lo comigo na carteira. Há tempos pensei em deitá-lo fora. Não consegui. Aliás percebi que a impossibilidade de fazê-lo estava relacionada com o muro que ainda não foi transposto. E com a falsa segurança que te dá teres uma parede à tua frente que te deixa cego… para o bem e para o mal. Simplesmente, incapacita-te de construíres algo diferente.

Todos temos os nossos muros, uns mais rígidos e altos, outros mais pequenos e flexíveis, mas para os todos casos há no mercado material para os destruir ou escalar… Já vai sendo altura de comprar uma picareta ou um kit de alpinismo!

Depoimento
De seguro,
Posso apenas dizer que havia um muro
E que foi contra ele que arremeti
A vida inteira.
Não. Nunca o contornei. Nunca tentei
Ultrapassá-lo de qualquer maneira.

A honra era lutar
Sem esperança de vencer.
E lutei ferozmente noite e dia,
Apesar de saber
Que quanto mais lutava mais perdia
E mais funda sentia
A dor de me perder.

Miguel Torga > 12.08.1907 17.01.1995

sábado, 12 de setembro de 2009

A um saltinho dos 30

Os 29 anos são complicados de gerir.
Emocionalmente começamos a pensar que entramos numa nova década, e inevitavelmente tendemos a fazer o balanço dos doze anos que se seguiram à almejada maioridade.

A verdade é que a maturidade só agora começa a chegar. As emoções são mais fáceis de gerir. Mas há algo que nos começa a fugir… a juventude. Deixamos de ser novos e passamos a adultos. Começam a chamar-nos de senhores/as.

Pensamos nos projectos que concretizámos e naqueles que permanecem sob a forma de projecto. Apesar de os dias terem 24horas, nunca temos tempo. Não há tempo para ler, para estar com a família, com os amigos, para estudar, para namorar e para ir beber um copo. As semanas voam e damos por nós a pensar nas prendas de natal. E a pensar que para o ano tentaremos de novo…

Até que um dia batem à porta. Quem é… são os teus 30 anos!!!! Que te ditam que está na hora de deixar de adiar. Que é preciso terminar projectos e começar novos. Que vais ter de conformar com a ideia de que há sonhos que têm de ficar para trás, e que tens de aprender a enfrentar isso sem mágoa.

Eles também te dizem que já tens linhas no contorno dos olhos, que pareces um gato assanhado quando te ris. Mas que ainda podes usar mini saias mais uns anos sem pareceres ridícula.

Os teus trinta anos levam-te a reflectir e a pensar no teu projecto de vida. Angustiam-te por já ter passado tanto tempo, mas em simultâneo fazem-te sentir feliz, porque tiveste o prazer de conhecer dezenas ou centenas de pessoas, de leres muitos livros e conheceres bons autores, de experienciares muitas histórias dos filmes e descobrires a obra de realizadores fantásticos. Fizeste memórias, fizeste escolhas, criaste um trilho para a tua vida e modificaste a vida de outros.

Já viste paisagens inesquecíveis, já partilhaste gargalhadas que pareciam não terminar, já choraste até não teres olhos, e quem sabe já gritaste até perder a voz. Com certeza já amaste e já deste o beijo que achaste ser o melhor da tua vida.

Muita água correu por baixo da tua ponte, mas muita ainda há para correr… e se até agora viajaste numa jangada… é a altura exacta de comprares uma bússola e descobrires o teu norte.


PS: Claro que a teoria não se aplica a todos os pré-trintões mas a um grupo de insatisfeitos cujas decisões não foram talvez as mais interessantes e profícuas.