domingo, 29 de novembro de 2009

“Rua da Saudade”

Deram-me a conhecer esta semana o CD “Rua da Saudade”, onde a obra poética de Ary dos Santos, falecido em 1984, é cantada pela voz de Luanda Cozetti, Mafalda Arnauth, Susana Félix, e Viviane.

Depois de ouvir o CD duas vezes completas a caminho de Lisboa, fixei-me numa delas e dei por mim a fazer o mesmo percurso dois dias seguidos a ouvir a mesma música. Uma espécie de inexplicável vício mental.
Foi então que percebi que este vício mental é comum a alguns seres.

Lembrei-me de uma tarde - há uns 7 anos atrás - em que quase enlouqueci. Ou melhor o departamento quase enlouqueceu quando o nosso chefinho resolveu pôr a tocar “solta-se o beijo” da ala dos namorados em repeat, com a agravante de termos feito serão nesse dia. Durante meses não conseguimos sequer pensar em “solta-se o beijo o gato mia”.

No caso da “Rua da Saudade” apenas “o I, o me, e o myself” são presenteados com a repetição do poema que transcrevo. Cada vez que se ouve compreende-se melhor a intensidade da letra, ao mesmo tempo que é interessante apercebermo-nos da dinâmica de vozes. Sente-se que a voz brasileira sorri ao cantar, enquanto a portuguesa sofre…

Canção do Tempo
Para um tempo que fica doendo por dentro e passa por fora
Para o tempo do vento que é o contratempo da nossa demora
Passam dias e noites, os meses, os anos, o segundo e a hora
E ao tempo presente é que a gente pergunta: E agora?, E agora?

Tempo para pensar cada momento deste tempo
Que cada dia é mais profundo e é mais tempo
Para inventarmos outro tempo menos lento

Tempo dos nossos filhos aprenderem com mais tempo
A rapidez que tem de ser o pensamento
Para nascer, para viver, para existir
E nunca mais verem o tempo fugir

Ai o tempo constante que a cada instante nos passa por fora
Este tempo candente que é como um cometa com laivos de aurora
É o tempo de hoje, é o tempo de ontem, é o tempo de outrora
Mas o tempo da gente é o tempo presente, é agora, é agora

Tempo para agarrar cada momento deste tempo
Interminável e absoluto rasgo o tempo
Num temporal com os ponteiros do minuto

Tempo para o relógio bater certo com a vida
De um homem bom, de um homem são, de um homem forte
Que da chegada conseguir fazer partida
E que desperta adiantado para a morte

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Pior que o elementar pano de lustro…

O pano de lustro, trivialmente conhecido por “engraxador”, é uma espécie vulgar e patética.

Porém, se à típica figura juntarmos uma pitada de cinismo e outra de miserabilismo obtemos um pano de lustro genuinamente tóxico.

É o verdadeiro ser capaz de personificar as lágrimas de crocodilo, pois como se sabe ao comerem as suas presas os crocodilos fazem pressão nos sacos lacrimais e por isso vertem lágrimas.

Alguém que sob a capa de benfeitor esconde um génio diabólico e dissimulado. Alguém que diz que sim a tudo com um sorriso prestável e cuja voz interior grita lá dentro “podes esperar sentada, que em pé ganhas raízes”.

O pano de lustro perigoso não discute, dá a outra face. Não diz asneiras, nem nomes feios. Chama querida a toda a gente. É uma maçã de pessoa….sim tal qual a maçã da Branca de Neve… maravilhosa por fora e venenosa por dentro.

Ao contrário do simples pano de lustro que tenta apenas agradar a superiores hierárquicos, o pano de lustro de primeiro grau é mais letal porque encerra o dobro dos requintes de malvadez.

Cuidado com os panos de lustro… usem sempre um espelho retrovisor que vos permita manter as costas sobre alerta!!!

domingo, 22 de novembro de 2009

Ruínas e artefactos na Baixa Pombalina

As galerias romanas da baixa pombalina fazem parte do imaginário não só de quem gosta de história, mas de muitos curiosos.

Estão abertas ao público apenas uma vez por ano, atendendo a que se encontram com um elevado nível de água, cuja bombagem sistemática, para além de ser um processo moroso levantaria problemas de conservação aos edifícios circundantes.

Quem tem interesse em descer às profundezas da baixa, mas cujo espírito de sacrifício é muito pouco vincado, pode fazê-lo com data marcada.

O Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros (NARC), proporciona visitas guiadas às ruínas romanas descobertas em 1991.

Depois de descer é só dar asas à imaginação, que vai sendo orientada pelas curiosidades e explicações da guia.

É interessante ver como os períodos históricos se cruzam. Por entre vestígios de construções habitacionais do séc. VII aC, vemos poços criados no séc. XVIII por Marquês de Pombal para minimizar novos riscos de incêndio, misturados com a beleza dos mosaicos romanos, e com um esqueleto que não foi retirado do local… Vêem-se ainda as míticas estacas de madeira sobre as quais toda baixa está assente – desde a Praça do Comércio até aos Restauradores.

Bem vistas as coisas somos apenas mais uma geração que alegremente vai vivendo pelas ruas de Lisboa… sem dúvida "na natureza nada se cria, nada se perde [simplesmente] tudo se transforma".

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

"Simplicidade" de género


Desmistifique-se o mito (perdoem-me a redundância) de que as mulheres são complicadas. Nós somos os seres mais simples da galáxia. Os homens é que têm fraca capacidade interpretativa.

Ainda admito que possamos ser comparadas às letras pequeninas dos contratos, mas está tudo lá... Mesmo aquela cláusula especial e surpreendente que se pensava não existir.

É o contacto permanente com o sexo masculino que por vezes nos faz sentir alienígenas.

Como é que não compreendem:
> Que nos sintamos sempre com umas gramas a mais?
> Que não consigamos parar de comer bolos, chocolates, gelados e batatas fritas?
> Que compremos roupa compulsivamente?
> Que nunca tenhamos nada para vestir?
> Que usemos sapatos desconfortáveis?
> Que olhemos insistentemente para os primeiros pés de galinha?
> Que queiramos ficar em silêncio de vez quando?
> Que queiramos falar até à rouquidão outras tantas vezes?
> Que passemos horas ao telefone?
> Que nos desloquemos aos pares ou em tríades à casa de banho em eventos?
> Que queiramos ser compreendidas sem ter de explicar sempre tudo, porque afinal uma meia palavra ou um olhar de soslaio diz mais que uma palavra inteira? ...

O existencialismo explica: É a nossa natureza!

Ps. Características como o ciúme, a possessividade, a mania das arrumações, a meticulosidade e outras tantas não se incluem no espírito desta teoria, mas de outras que se prendem com gestão de emoções e comportamentos humanos inerentes a ambos os sexos.

sábado, 14 de novembro de 2009

No fundo do baú

Toda a gente devia ter uma caixinha de recordações. Uma daquelas caixas quase secretas que escondemos ou deixamos que passem despercebidas por estarem tão à vista.

Um dia por acaso ao remexer noutras coisas damos com ela. Então abrimos e redescobrimos uma série de pormenores dos quais não nos lembrávamos. Uma moeda, um postal, uma concha, um bilhete, um anel, uma fotografia….

Toda a gente devia ter uma caixinha de cartas. Daquelas que se mandavam pelo correio, que demoravam 5 dias a chegar, que metade escrevíamos em código para que não pudessem ser percebidas por mais ninguém. Páginas e páginas com uma caligrafia infantil e com histórias impagáveis.

Um dia por acaso damos com ela e sorrimos largamente com as aventuras. Olhamos para os selos, e para os amigos que tínhamos na altura. Muito vezes o fluxo informativo coincidia com período pós férias de Verão….

Mais ainda todos nós devíamos de ter um diário ou uma pasta com os textos que escrevemos na adolescência ou idade pré-adulta, guardada algures entre uma série de outros papéis.

Um dia por acaso pegamos neles e encontramos um poema:

O MAR VISTO P’LOS OLHOS DE UM CEGO
Fresco, salgado…
Cada gota que me toca na pele faz-me corar.
Não o vejo. Mas posso senti-lo…
Dizem-me que é azul. Eu não sei o que é azul, mas estou certo de que azul é vida, é magia, é conforto.
Toquei-lhe. Um arrepio invadiu-me todo o corpo, senti-me a flutuar.
Cerrei os olhos com mais força, “quero imaginá-lo”, dizem que começa em nós e não tem fim, que nele marcamos o nosso horizonte e por mais que caminhemos o horizonte não muda.
Mergulhei, entrei nele, sinto os pés a enterrarem-se na areia e sinto que ele me possui.
A praia parece deserta pois só oiço o rebentar das ondas e a voz que me conduziu até aqui,
Pedi-lhe que se calasse, que me deixasse “ver”.
Na minh’alma não há cores mas estou certo que é bem mais rica e fantasiosa do que muitos daqueles que se julgam perfeitos.
Envolvi-me no som da rebentação, e dancei com o vento, que me sussurrou ao ouvido.
Não conseguia parar, até que caí no chão rindo-me a gargalhadas soltas.
O vento continuou a soprar, as ondas a rolar, mas algo mudou…
Disseram-me que o sol se estava a pôr, que era como uma bola de fogo que se apagava no mar. No entanto, não tinha cheiro, nem som, nem emanava calor… Foi aí que chorei.


Escrito a 3 de Fevereiro de 1998 - 1º ano da faculdade. Encontrado a 14 de Novembro de 2009 enquanto procurava uns papeis do IRS.


Ps. Não posso deixar de fazer uma alusão ao Fabuloso Destino de Amélie Poulain, onde se encontra a ilustração perfeita da importância de uma caixa de recordações.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O nosso Idéiafix


O cão mascote da aldeia do Asterix, o Idéiafix, faz parte do nosso imaginário. Em pequenos limitamo-nos a achá-lo “fofinho”, quando crescemos acabamos por perceber que este personagem é parte integrante da nossa vida. Passo a explicar.

O nome provém do francês ideé fixe que é como quem diz ideia fixa. Facilmente se percebe o porquê da analogia.

Por vezes cegamos com as nossas próprias ideias, queremos porque queremos – seja lá aquilo que for - sem olhar a meios, consequências, ou figuras impróprias…

O Idéiafix que há dentro de cada um de nós manifesta-se nas mais diversas ocasiões. Quando queremos comprar aquela nova tecnologia que nos faz mesmo falta, ou aquele parzinho de sapatos sem o qual não conseguiríamos voltar a andar… mesmo que a tecnologia nos deixe na banca rota e os sapatos sejam tão altos que tenhamos de parar a cada metro.

Quando nos dizem para irmos para a direita e resolvemos ir para a esquerda porque achamos que é um atalho e acabamos atolados numa estrada de areia.

O Ideiafix materializa-se no nosso lado irreflectido, pouco ponderado e até mesmo irracional que por vezes se apodera das nossas atitudes. É assim porque é… e venham-nos lá dizer o contrário.



Nota: O Asterix e os seus amigos completaram uns divertidos 50 anos de existência no dia 29 de Outubro de 2009.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Ficar sem travões

Às vezes percebemos que já não há nada a fazer. Carregamos no travão e o carro não reage… num ápice Záaassssssss espetamo-nos na parede mesmo à nossa frente. Para prevenir a situação bastaria ter ido à revisão.

Acabei de bater numa parede. Pior do que não responder a uma pergunta é dizer um impropério de fazer arrepiar uma alma penada… e entrar para as estatísticas das piadas tenebrosas que ouvimos os professores contarem anos a fio.

Em 2000 o Sousa Lara foi meu professor de ciência política, um dos seus divertimentos era anotar os disparates que lia nos testes, e levá-los numa folha para partilhá-los com a turma. Não se limitava a ler, mas ilustrava a história com a reacção que tivera ao corrigir… lembro-me de algo a propósito do fim das ideologias, em que um aluno se referira aos “ketchup parties” em vez de “catch all parties”…

Por muita graça que tivessem os comentários não partilhavamos a alegria do docente, estavamos mais preocupados em perceber quando é que ia chegar a nossa vez...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Ir vivendo… ou comecem a procurar os vossos amantes

Há dias enviaram-me um texto que inicialmente me recusei a ler. “Procura-se um amante”… o meu primeiro pensamento foi “ raios estes homens só pensam em mulheres e em relações ilícitas” … e o texto foi direitinho para os itens eliminados.

Claro que o meu desagrado foi expresso em email posterior. E a resposta não se fez esperar “Pois então devias mesmo ler. A palavra “amante” não encerra apenas o termo estrito da questão, mas sim aquilo que nos leva a viver com alegria e vontade.”.

Rendi-me ao argumento e li o artigo. Nunca é demais absorver coisas que nos possam inspirar… Deixo assim um excerto… e já se viu que corroboro com a opinião do autor “comecem a procurar os vossos amantes”!

PROCURA-SE UM AMANTE
Amante é "aquilo que nos apaixona". É o que toma conta do nosso pensamento antes de adormecermos, e é também aquilo que, às vezes, nos impede de dormir. O nosso Amante é o que nos mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa volta. É o que nos mostra o sentido e a motivação da vida.

Às vezes encontramos o nosso amante no nosso parceiro, outras vezes, em alguém que não é nosso parceiro, mas que nos desperta as maiores paixões e sensações incríveis. Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica ou na literatura, na música, na política, no desporto, no trabalho, na necessidade de nos transcendermos espiritualmente, numa boa refeição, no estudo, ou no prazer obsessivo do nosso passatempo preferido...

Amante é "alguém" ou "algo" que nos faz "namorar" a vida e nos afasta do triste destino de "ir vivendo". E o que é "ir vivendo"?

"Ir vivendo" é ter medo de viver. É vigiar a forma como os outros vivem, é o deixarmo-nos dominar pela pressão, andar por consultórios médicos, tomar remédios multicoloridos, afastarmo-nos do que é gratificante, observar decepcionados cada ruga nova que o espelho nos mostra, é aborrecermo-nos com o calor ou com o frio, com a humidade, com o sol ou com a chuva.

"Ir vivendo" é adiar a possibilidade de viver o hoje, fingindo contentarmo-nos com a incerta e frágil ilusão de que talvez possamos realizar algo amanhã.

Acreditem que o trágico não é morrer, porque afinal a morte tem boa memória e nunca se esqueceu de ninguém. O trágico é desistir de viver, por isso, e sem mais delongas, procurem um amante.

Jorge Bucay - Psicólogo

domingo, 8 de novembro de 2009

Reclamar… se possível com classe

Quem nunca experimentou a sensação de escrever num livro de reclamações não sabe o que está a perder.

Reclamar faz-nos sentir poderosos, como se subitamente o motivo da nossa irritação deixasse de ser só nosso. O livrinho tem este poder deixar o dono do mesmo tão irritado quanto nós.

Mas é preciso saber reclamar. Respirar fundo algumas vezes. Sorrir outras tantas e quando menos se espera, naquele momento em que pensam que nos vamos ficar pela indignação… vem a frase “por favor traga-me o livro de reclamações”.

Alguns ainda tentam dissuadir-nos… mal sabem que é tarde…. Quando a frase é proferida, na nossa cabeça já se resolveram todas as questões e incertezas quanto à reclamação. Simplesmente deixamos levar-nos pelo desejo e cumprimos o direito de reclamar.

Quando nos estreamos a emoção é mais forte. A verdade é que o coração palpita e os ânimos se agitam. Pomos um ponto final no texto. Recebemos um duplicado. Saímos do local ainda enraivecidos, mas com a sensação de justiça e liberdade.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Quem nunca se confrontou com um Chico (Esperto) levante o braço!

Os Chicos Espertos são figurinhas quotidianas, que normalmente irritam grandes percentagens dos demais indivíduos obrigados a conviver com eles. São tipos (ou tipas) que querem parecer inteligentes e ter uma palavra sobre tudo… porque se consideram iluminados. Muito embora a opinião pública seja bem diversa da opinião do Chico.

O Chico acha que diz coisas acertadas. Gosta de intervir sem razão de ser. Gosta de se ouvir. Às vezes é realmente conhecedor de alguma coisa, mas a sua ânsia de protagonismo retira-lhe qualquer hipótese de brilhar.

Em todas as turmas há um Chico. Qualquer que seja a idade ou o credo. São uma espécie de melgas num quarto às escuras que todos ouvimos zumbir sem as conseguir calar.

Nos locais de trabalho existem Chicos semelhantes. Ansiosos por darem nas vistas têm sempre resposta, e sentem-se os mais engraçados. Têm de ter piada e uma última palavra a dizer. Não admitem rivais. Muitas vezes, por trás da sua capa de Chicos sem papas na língua são tipos perigosos...

Também os há de outros géneros: o que se põe à frente na fila de atendimento; o que se senta no lugar reservado a velhinhos e fica a olhar para a janela a disfarçar; o que compra comida feita e recebe elogios como se fosse um óptimo cozinheiro sem confessar que o mérito não foi seu; o que passa nas portas do metro colado à pessoa da frente para não ter de pagar bilhete, etc, etc, etc…

Estes são Chicos menores… pois vemo-los apenas o tempo suficiente para nos apercebermos da sua Chiquice. Quanto aos outros….!

domingo, 1 de novembro de 2009

O trintinho e o trintão


Pois é cá cheguei ao clube dos trinta! Sou aquilo a que se pode chamar de trintinha. Exactamente. Há dois espécimes de trintas. Os trintinhas que se encontram no intervalo de idade entre os 30 e os 34. E depois temos os trintões entre os 35 e os 39.

Não podemos confundi-los. Os trintinhas têm a ilusão de que ainda têm toda a vida pela frente. Que agora sim é altura de dar os mais variados passos contra a inércia. Acreditam que já aprenderam muita coisa e que são crescidos. Apercebem-se (ligeiramente) que ainda têm muito de adolescentes e que ao invés de corrigirem certos defeitos, estes se acentuaram ao longo dos anos. Mas ainda têm esperança e acreditam nos desejos que pedem nas passas de ano novo.

Desacreditados da justeza da natureza e do destino, alguns trintinhas voltam-se para os astros e para o oculto. Para o poder enérgico dos incensos e das cartas de tarot disponíveis num site credível da internet. Lêem ensinamentos de feng shui. Alguns abrem o livro das respostas cada vez que têm uma dúvida. Pode dizer-se que são miúdos com as primeiras ridulas no rosto.

Os trintões distinguem-se dos primeiros por serem verdadeiramente maduros. Começam a caminhar rumo à crise da meia idade. Apercebem-se se têm ou não uma carreira. Se têm ou não uma família. Se têm ou não uma casa. E sobretudo de que já não são crianças. A percepção que têm de si muda radicalmente, e fazem planos para o futuro (quase) como se não houvesse amanhã.

Nesta fase os trintões juntam cumulativamente o descrédito na natureza, no destino e no oculto. Mandam as energias à fava e voltam a pensar no lado pragmático da vida. Deixam de querer mudar defeitos, e passam a considerar que se são assim os outros só têm de os aturar. Note-se que os irritadiços estão cada vez mais irritadiços, os nervosos cada vez mais nervosos, os tímidos cada vez mais tímidos…. E por aí fora.

E vem-me à memória uma frase batida “Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida”.