quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Fechar projectos

Às vezes damos por nós com uma série de portas abertas. São tantas que começam a fazer corrente de ar. E as correntes de ar quase sempre são nocivas para a saúde.

Neste caso podemos dizer que se trata de uma corrente de ar mental, que nos deixa com as ideias frágeis e atordoadas. Diria mesmo engripadas, esgotadas de energia criativa.

Nessa altura percebemos que temos tantos projectos a correr em paralelo que nenhum ganha verdadeiro brilho. Percebemos que adiamos tanto tempo algumas concretizações que estas perderam sentido, e que deixamos de ter tempo útil para realizar outras tantas.

Aí agarramos na chave e vamos trancar portas. Fechar assuntos. Avançar. Decidir. E nessa altura sentimos que afinal evoluímos, talvez não da forma como planeamos inicialmente, talvez não da forma como desejaríamos, mas fomos capazes de deixar de marcar passo e subitamente ganhamos de novo controlo sobre nós próprios!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Marcelino Diamantino

De vez em quando deparamo-nos com alguns personagens que ilustram determinados clichés. Este senhor lembrou-me a célebre personagem de Rafael Bordalo Pinheiro, criada em 1875, o “Zé Povinho”.

Marcelino Diamantino é revisor da CP. Alto, encorpado, barba rala meio feita, meio por fazer. Mãos grossas. Barriga proeminente presa no cinto das calças.

Ar indiferente de quem já calcorreou carruagem a carruagem até perder a conta. Por certo vai de Oeiras ao Cais do Sodré. Do Cais do Sodré a Cascais, sem sequer se aperceber que ao lado há um mar imenso. Que às vezes o sol ilumina a paisagem, e que outras vezes as nuvens lhe conferem um ar cinzento.

Este revisor é ele próprio cinzento. Não é simpático, não é mal disposto. Máquina de conferir bilhetes na mão. Antigamente talvez usasse um daqueles picos que deixavam um furo certeiro nos bilhetes já usados. Agora limita-se a conferir a validade.

Não resisti e olhei para a placa de identificação (não me lembro da ultima vez que tivesse tido curiosidade em saber como alguém se chamava). Lá estava. Marcelino Diamantino. E pensei “que bem que o nome lhe assenta!”

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

“Sou gorda por dentro!!!”

Estávamos numa amena conversa do lanche das 16h30. Não se trata propriamente da conhecida “hora Coca Cola Light”, mas da pausa diária para distender os sobrecarregados neurónios ocupando-os com conversas às vezes leves e interessantes, outras pesadas e dramáticas, e outras ainda fúteis e sem conteúdo.

É então que a minha caríssima colega, com os seus esguios 32 anos, me diz com um ar de pânico. “Nem queira saber! Fui mostrar à médica os resultados das minhas análises, vim de lá com a constatação de que tenho o Colesterol com valores muito superiores ao máximo aconselhável, e os Triglicérides estão na mesma!!!”.

Prosseguiu. “A médica deu-me um raspanete e disse-me que tenho de fazer dieta! Vou desaparecer! Eu que sempre comi tudo porque sou magra… Agora descobri que SOU GORDA POR DENTRO!”

Dá ou não dá que pensar?! Cá está como as aparências iludem. Por trás de uma super barrigita ultra lisa, que nos leva a ir “pecando” com frequência, pode estar escondido o silencioso monstro da gordura…

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Ser magra

Porque será que as tiras da Maitena são tão deliciosas? Arrancam-nos um sorriso “rasgadérrimo” porque temos a sensação de identificação imediata. São a ilustração de clichés que materializam o nosso lado paranóico, delirante, complexado, malandro, entusiástico, ardente, frágil, encantador, problemático, extravagante, caloroso, vulnerável, raivoso, indeciso, delicado, apaixonado, amoroso, desfeito, miserável, puro, verdadeiro…. FEMININO.


sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Pipocas no cinema


Os filmes exibidos no cinema King são por norma fora do mainstream cinematográfico exibido na maioria das salas do país. Aqui já se sabe que não há pipocas, nem comida de qualquer espécie entra dentro da sala. É assim, porque os amantes destas películas veneram o cinema, como uma obra de arte que tem de ser respeitada.

Não tenho nada contra este princípio, mas as idas sucessivas a centros comerciais, despertaram-me o gosto de de vez em quando levar para dentro da sala um pacote de pipocas doces e salgadas, que vão deliciosa e ruidosamente sendo ingeridas de cena em cena.

Mas o acto de comer estes “milhos em flor” nem sempre é pacífico, nem apreciado pelos demais espectadores. Outras vezes é a nós próprios que causa embaraço…

Ora quem é que já não tropeçou e encheu a sala de pipocas? Ou deu um solavanco a meio do filme surtindo o efeito anterior? Quem é que já não teve um roedor a mastigar incessantemente ao seu ouvido? Quem é que já não se sentiu desenquadrado, mastigando pipocas numa sessão de um filme alternativo (lá por ser exibido num centro comercial, não deixa de respeitar a regra da “obra de arte”) Quem é que não levou pipocas para dentro de um filme silencioso, em que só as mordia de meia em meia hora, durante uma cena mais ruidosa?Ah pois…

Nunca fiz das pipocas um ritual cinematográfico, mas de vez em quando, sabem tão bem!!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O peixe que sabia a mofo…

O peixe que sabia a mofo, ou a noite em que o Benfica perdeu com o Porto.

Final de tarde de Sábado. Segundo o comentário do LC, para ser um Sábado perfeito só faltava jantar num sítio simpático e o Benfica ganhar a taça. Nesse mesmo dia o meu rico primo infernizara a vida à namorada e à irmã, barafustando contra a praia, que os três desfrutaram durante toda a tarde.

Os nossos planos convergiram com os deles nesse final de Sábado em Galapinhos. “E que tal se fossemos a Setúbal comer um belo peixe assado?”. Alinhamos de imediato. “Pedimos a uns amigos umas dicas de um sítio descontraído, com peixe fresco e sobretudo que tenha grandes ecrãs plasma”, comentaram.

Descemos a Avenida Luísa Todi. Estacionamos e dirigimo-nos para o pé da lota. Do restaurante nada. A caríssima prima, triste por não encontrar o local, telefona à amiga para que lhe desse as coordenadas precisas. Et voilá… caminhamos junto ao Sado rumo a uns terrenos mal amanhados e descobrimos o “Bombordo”.

O aspecto meio sujo deixou-nos reticentes, mas a proximidade da hora do jogo, levou a que entrássemos. Deparamo-nos com dois televisores com ar de caixote, um dos quais estava avariado. O primo começou a ficar alterado. Avisaram-nos que dentro de instantes ia começar um momento de música ao vivo. O cenário ideal. O jogo mal se via. O artista cantava Rui Veloso (versão brasileira) em plenos pulmões.

O pior não tardava a chegar. O peixe. Um rodízio de peixe que devia conhecer todos os setubalenses, ou talvez todos os habitantes do distrito.

Salgado. Torriscado….Carapaus a saber a mofo. Os clientes da casa condiziam com o ambiente em geral. Quanto à cereja no topo do bolo: baratas castanhas a passear na calçada…. Felizmente conseguimos resistir à tentação imaginativa de as vislumbrar dentro do recinto.

E no meio disto o Benfica perde. E alguém na mesa quase que estrangula os companheiros de jantar… Sobrevivemos ilesos!!!!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

“As vidas dos outros”

Os Anaquim têm uma música gira “As vidas dos outros”. Fala da forma como simplificamos os problemas alheios e “monstruizamos” os nossos.

A verdade é que a vida dos outros é simples. Nela tudo é fácil de resolver. Por vezes levamos as mãos à cabeça com tamanho disparate que vemos os outros fazerem. Usamos o nosso lado crítico e ponderado que nos leva a encontrar todas as respostas.

Na vida dos outros conseguiríamos encontrar a perfeição enquanto pessoas. O certo e o errado têm limites bem traçados. As emoções são balizadas e é fácil perceber os exageros, os pecados. É fácil de dissipar todas as dúvidas. É fácil de equacionar todas as respostas.

Na vida dos outros somos muito racionais a dar conselhos. A hierarquizar prioridades. A relativizar situações. A acabar com relacionamentos. A esquecer pessoas. A dar a resposta adequada. A evitar discussões. A arriscar. A fazer dieta. A fazer exercício. A assumir sentimentos. A aceitar criticas. A evitar ciúmes. A resolver pendências. A encontrar o trabalho certo. A viver...

A vida dos outros é muito mais fácil de viver… que a nossa!




ANAQUIM - As Vidas Dos Outros

Eu sou tão bom a falar das vidas dos outros
Há sempre um conselho a dar p'rás vidas dos outros
Nada é eterno e se aguentarmos todo o mal tem fim
É fácil ter calma quando a alma não me dói a mim
Eu sou tão bom a tornar todo o mal inerte
Se é aos outros que lhes custa que o passado aperte
Mas quando a inquietude vem toda para o meu lado
Deita-se, desnuda e não desgruda até me ter vergado

É tão simples quando estou de fora
A ver passar as nuvens pelo ar
Aplaudir, rever-me e concluir
Que eu também já lá estive e...
Já soube ultrapassar
Só a mim é que ninguém me entende
E a minha dor não tem como acabar
Ai quão melhor era acordar um dia
E ter as vidas dos outros todas em meu lugar

As vidas dos outros nunca me soam mal
Veêm problemas no que é no fundo normal
Ai se eles soubessem como é viver assim
As vidas dos outros são tão simples para mim

Eu sou tão bom a falar das vidas dos outros
Sempre me sei comportar nas vidas dos outros
Volta, revolta, o melhor está para vir
Solta tudo agora, não demora, tornas a sorrir
Eu são tou bom a apagar qualquer mau momento
Se é aos outros que lhes bate à porta o sofrimento
Mexe, remexe, alguma coisa hás-de encontrar
A solução é procurar

Eu sou tão bom a falar
Eu sou tão bom a cantar
Eu sou tão bom a contar as vidas dos outros
Eu sou tão bom a falar
Eu sou tão bom a curar
Tudo menos o meu próprio mal

As vidas dos outros nunca me soam mal
Veêm problemas no que é no fundo normal
Ai se eles soubessem como é viver assim
As vidas dos outros são tão simples para mim

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Conte uma Fábula e Melhore o seu EU

Durante um zapping radiofónico matinal, parei por acaso na Antena1 e ouvi a Fábula da Galinha dos Ovos de Ouro, de La Fontaine. A história é mais ou menos assim.

Um homem tinha uma galinha que punha um ovo de ouro por dia. Não satisfeito com a quantidade, o proprietário decide cortar o pescoço à galinha de modo a descobrir o tesouro que o animal tinha dentro da barriga. Qual não é o seu espanto quando descobre que nada havia dentro da galinha. Era uma galinha normal igual às outras!

Moral da história, a ganância de tudo querer, leva a que tudo se perca.

A verdade é que as fábulas têm uma componente educativa interessante, útil e necessária. Para além de estimularem a imaginação, ajudam a construir o nosso EU social. Relembremos as boas fábulas e aprendamos a ser melhores pessoas.


Movimento Conte uma Fábula e Melhore o seu EU

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Pendurite… mais ou menos aguda

A pendurite, mais ou menos aguda, é um distúrbio típico dos condutores… que não estão a conduzir.

Vejamos. No momento em que o condutor passa para o lugar do pendura, geralmente num carro que não é o seu, a pessoa começa a sofrer um processo de transformação. Olha fixamente para a estrada. Um nervoso miudinho percorre-lhe todo o corpo. Começa-se a mexer no banco. Pressiona os pés contra o vazio em busca do pedal do travão.

Numa outra fase da pendurite, o pendura, chega a pressionar um braço, uma perna, ou o pescoço do condutor exteriorizando assim sua intenção de travar.

Às manifestações físicas acrescem manifestações verbais. São muito comuns interjeições como “o sinal está vermelho”, “tens aí um stop”, “não vás na faixa da esquerda”, “não te aproximes tanto do carro da frente”, “daquele lado há menos fila”, “podias ter seguido por ali”… às vezes é mais directo outras vezes opta pela técnica das dicas, em que vai subtilmente (pensa ele que é subtil) dando sugestões de condução.

A pendurite tolda portanto a parte racional, que permite ao pendura verificar que o actual condutor também tem olhos, cérebro e mais…SABE conduzir!!!

Testes comprovaram que se o condutor for pendura no próprio veículo a manifestação da pendurite quadruplica de intensidade.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Um pensamento de Truman Capote

A vida é uma peça de teatro razoavelmente boa com um terceiro acto mal escrito.
Truman Capote (1924-1984)