segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A distância alimenta as tréguas

Encontrei há dias o meu antigo “chefe”, chamemos-lhe assim. Há pelo menos 3 anos que não o via. Na época em que partiu, confesso que não deixou nenhuma réstia de potencial saudade. Tinha o hábito comezinho de me ligar 5 minutos antes da hora de almoço com um rol de urgências, nada urgentes, que tinham de ser tratadas no imediato, repetia a cena no final do dia, o que o tornava extremamente irritante.

Arrastava-se com um ar de lorde inglês, e sorria ou vociferava do cimo de uma barriga gigante, demasiado gigante para a idade e para a saúde.

Quando entrou no gabinete há primeira vista não o reconheci. Visivelmente mais magro. O sorriso era o mesmo. Não pude deixar de fazer um ou outro comentário, à laia de brincadeira, o que na verdade me deu alguma satisfação.

Gostei de o ver. O meu ódio de estimação tinha-se diluído. A distância alimenta as tréguas e a mudança de papéis sociais também. Confesso que não teria prazer nenhum em voltar a trabalhar com ele, mas já não me enerva, pelo contrário deixou no ar uma sensação de paz.

Às vezes é assim. Distanciarmos-nos de um foco de tensão leva a que esse foco diminua de intensidade devagarinho, até que um dia se transforma em indiferença. Não indiferença no sentido de frieza, mas a indiferença do desapego. A indiferença que dois minutos já depois já esquecemos a personagem. E sobretudo a indiferença da SERENIDADE. Ficamos simplesmente serenos, como se essas pessoas ou acontecimentos nunca tivessem provocado um ciclone na nossa vida. Aí sim…está ultrapassado!