sábado, 8 de outubro de 2011

As traças da existência

As traças são uns insectos incómodos. No nosso imaginário estão associadas aos furos nas camisolas de lã preferidas. Uma espécie de devoradores de sonhos, que quando abertos os baús para o início do ineverno tinham aniquilado o adorado casaquinho de cachemira, o cachecol com que tinhamos vivido uma aventura, ou a blusa de pura lã virgem de uma marca favorita...

Se era difícil livramos-nos delas? Sim sem dúvida. Impossível? Nem pensar...

Na verdade, de vez em quando aparecem na nossa vida esses bicharocos em formato virtual. Devoram-nos os sonhos, as esperanças, os projectos, a capacidade de criar e de até de evoluir. De um momento para o outro estamos involtos num marasmo existencial, rendidos às rotinas, e ao relógio de ponto que marca sempre a mesma hora de entrada e de saída. Vemos as mesmas caras. Fazemos cronogramas de tarefas profissionais, que mais do que projectos nos fazem projectar a passagem do tempo, num incessante corropio de urgência, que é urgente produzir.

Mas o que fazemos com tanta urgência? Será urgente correr? Ou por outra, será antes urgente parar?

No dia em que nos apercebemos que a nossa existência está a ser invadida por traças há que tomar medidas drásticas. Tomar o antídoto. Voltar a criar. E fazer diferente.

PS. Parece que este blog já estava com traças!