sábado, 31 de outubro de 2009

Nevoeiro

Os elementos da natureza fazem-me sentir bem. Deve ser uma espécie de conexão que estabeleço com energias superiores. Gosto de um dia de sol, mas mais do que torrar na praia, gosto de um dia de sol de Inverno.

A luz dos relâmpagos fascina-me, em especial acompanhada por uma chuva intensa. Aí fico do lado de dentro da janela, com tudo apagado a olhar a rua. Deixo apenas uma fresta aberta para sentir o vento frio. Incrível como às vezes um apagão a meio da noite nos dá a sensação de regresso à fase primitiva do nosso ser … e à vulnerabilidade perante os elementos.

O nevoeiro é um desses cenários de que gosto. Pelo mistério. Pela dúvida. Pelo enigma. Por caminhar nos mesmos sítios com a percepção de que são outros. Tudo é igual mas tudo parece diferente.

Trata-se de uma espécie de ilusão. Como se fossemos num sonho que só acaba com o raiar do sol.
É por isso que D. Sebastião regressaria num dia de nevoeiro. Quando menos se esperasse, surgiria por entre a neblina trazendo de novo a esperança.

Creio que o adore por ser místico. Não o encaro como soturno ou negativo. Pelo contrário é uma espécie de outra dimensão. Diferente, envolvente, misterioso, perigoso, solitário, e acolhedor porque nos abraça….

NEVOEIRO: O nevoeiro é uma nuvem stratus cuja base está no solo ou perto dele reduzindo até 1 quilómetro de distância. Os nevoeiros diferenciam-se das nuvens porque ocorrem junto à superfície. São humidade condensada perto do solo, em forma de depósito.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Rescaldo futebolístico num país de "rafeiros"

Não sou particular adepta de jogos de futebol, mas sou adepta do bom humor.

Nada melhor para animar uma manhã passada na fila de trânsito, do que a audição de alguns episódios de movimentações do homem em sociedade. Falo em concreto das vozes dos homens do futebol depois do Benfica – Nacional (6-1).

Assim deixo duas declarações deliciosas:

"Na vida um vintém é sempre um vintém e um cretino é sempre um cretino", Manuel Machado, treinador do Nacional, dirigindo-se a Jorge Jesus.

“Portugal é um país de rafeiros, mas um presidente de um clube ainda é um presidente de um clube”- declarações de um jogador de quem não fixei o nome...

Se bem entendi o que o jogador quis dizer foi que apesar de rafeiro um presidente de um clube ainda tem umas "pinceladas" de pedigree que lhe dão um certo estatuto.

Ou será que este queria dizer que Portugal é um país de rafeiros do alentejo?

É outra interpretação provável... afinal de acordo com o Estalão Oficial da Raça, os rafeiros do alentejo são: excelentes guardas das herdades e quintas do Alentejo, cães de guarda de rebanhos de muito préstimo, menos vigilantes durante o dia, mas agressivos para com os desconhecidos.

Bem vistas as coisas não posso deixar de subscrever a ideia. Portugal é um país de rafeiros a começar pela classe futebolística... !

domingo, 25 de outubro de 2009

Desencontros/Escolhas

Extravios, descaminhos, desvios… a clássica referência às vicissitudes do destino.

Os desencontros criam cenários repletos de “ses”. Deixam a imaginação livre para pensar no que teria acontecido se tivéssemos encontrado aquela pessoa naquele local, se tivéssemos passado naquela estrada alguns segundos antes, se tivéssemos respondido de forma diferente a uma entrevista de emprego.

Se todas essas coisas tivessem acontecido de forma diferente também nós seriamos diferentes. Os desencontros vão determinar as escolhas que definem as pessoas, e a cada “se” determinamos o próximo passo, seja qual for a esfera da nossa vida.

Deixo duas letras de desencontros, das quais gosto particularmente.

Afinal qual é o tempo certo para fazer a escolha certa? Até que ponto andamos nós próprios desencontrados das nossas opções?


A NOITE PASSADA
A noite passada acordei com o teu beijo/ Descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo/ Vinhas numa barca que não vi passar/ Corri pela margem até à beira do mar/ Até que te vi num castelo de areia/ Cantavas "sou gaivota e fui sereia"/ Ri-me de ti "então porque não voas?"/ E então tu olhaste/ Depois sorriste/ Abriste a janela e voaste.

A noite passada fui passear no mar/ A viola irmã cuidou de me arrastar/ Chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo/ Olhei para baixo dormias lá no fundo/ Faltou-me o pé senti que me afundava/ Por entre as algas teu cabelo boiava/ A lua cheia escureceu nas águas/ E então falámos/ A então dissemos/ Aqui vivemos muitos anos.

A noite passada um paredão ruiu/ Pela fresta aberta o meu peito fugiu/ Estavas do outro lado a tricotar janelas/ Vias-me em segredo ao debruçar-te nelas/ Cheguei-me a ti disse baixinho "olá"/ Toquei-te no ombro e a marca ficou lá/ O sol inteiro caiu entre os montes/ E então olhaste/ Depois sorriste/ disseste "ainda bem que voltaste".

Música e Letra - Sérgio Godinho


DESENCONTRO
Se ela pressentisse/ O olhar que me devolve /As ânsias sem idade /Os olhares ao espelho sem piedade /A verdade foge trémula e sem serenidade

Se ele sentisse/ Só por uma vez/ Que paro quando fala /Que rio quando olha /E coro quando é para mim /E quero que me agarre

Ela nem imagina / Ele nunca me vai ver/ Volto a cruzar-me com ela/ Fingindo não o ver/ E por isso nunca/ Ele nunca vai saber/ O quanto eu te quero

Ela vai rir-se quando lhe contar/ Que um dia quis dar-lhe o mundo / Mas não a soube chamar/O seu cheiro passa solto /E leve como o ar

Ele vai ter um sonho por guardar /O tempo não tem escolha/ E a alma passou longe/Adeus! Será que é Adeus?/ Eu não te perco mais

Interprete Luís Represas e Simone, letra Margarida Pinto Correia

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Uma nova perspectiva sobre o burro e a cenoura

Recordemo-nos a imagem do burro atrás da cenoura. O burro anda e continua a andar atrás da sumarenta e suculenta cenoura, que é como quem diz atrás dos seus objectivos.

Os pessimistas dirão que é mesmo asno, em sentido substantivo e adjectivo. Persegue o inatingível, pois cada vez que tenta mordê-la, ela afasta-se de si. E mesmo assim não desiste perdendo tempo e esforçando-se em vão.

Os optimistas dirão que o burro caminha atrás do sonho, e que só persegue essa meta porque já conhece o sabor daquele delicioso legume. O burro já conhece o sabor da vitória e fará de tudo para voltar a alcançá-la.

Quando a viagem acabar o dono dará a cenoura ao burro, e colocará outra na ponta da vara para a próxima jornada. Mas essa já será uma cenoura nova, que é como quem diz um novo objectivo, um novo desafio…

De burro e de louco todos temos um pouco. Às vezes um pequeno estímulo pode-nos fazer simplesmente relembrar que somos poderosos e capazes.

domingo, 18 de outubro de 2009

O poder da gargalhada

Haverá algo melhor no mundo que uma boa gargalhada?

Rir regenera o corpo e a alma. Além disso faz-nos perceber o grau de cumplicidade que temos com os outros.

Um riso profundo daqueles que passam do rosto, para o peito, do peito para o abdómen, e que nos impede de falar de respirar e de pensar por uns momentos é algo valioso que não se partilha com qualquer um.

Trocamos sorrisos e momentos de humor moderado com as mais infinitas pessoas. Mas uma boa gargalhada louca, essa é reservada às pessoas queridas com quem temos afinidades em determinadas áreas e por isso têm capacidade de rir das mesmas coisas que nós.

Partilhar uma gargalhada é algo genuíno. Somos nós próprios. Encontrar alguém com o mesmo sentido de humor é meio caminho andado para uma amizade.

Fica a curiosidade. Na Idade Média o riso é condenado, está do lado do demónio. Do séc. IV ao séc. X o riso é sufocado. O corpo é dividido em partes nobres (cabeça e coração) e ignóbeis (ventre, mãos e sexo). O riso vem do ventre, percorre o corpo vindo das partes baixas, passa do peito para a boca. A boca deve ser um ferrolho, os dentes uma barreira que deve conter o fluxo de insanidade que o riso pode veicular. Veja-se uma das regras de Columbano “aquele que rir à socapa no ofício será punido com seis chibatadas. Se rir às gargalhadas fará jejum, a menos que tenha rido de forma perdoável”. O riso de quem tem siso é apenas o sorriso.

Mas convenhamos…rir com o dentinho de fora faz-nos sentir tão bem…

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A estupidez...

Haverá algo pior do que nos sentirmos estúpidos? Do que o peso de nos sentirmos ridículos? Et voilá como não conseguimos separar a cabeça do corpo, o sentimento perdura… e perdura. Haverá lago mais cretino do que escolher as duas perguntas de menor cotação num teste de escolha múltipla?

Será o reconhecimento da nossa própria estupidez sinónimo de inteligência?

Honestamente soa-me a pergunta retórica para justificar o injustificável. A estupidez faz parte da natureza humana, por muito que tentemos fugir dela mais cedo ou mais tarde ela acaba por aparecer.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A democracia do tempo

Haverá algo mais equitativamente distribuído pelo criador do que o tempo?

24h são 24h.
Independentemente do local do globo, da raça, do credo, do estrato social. Um dia é um dia. Agora cada um soma à sua à vida as actividades que quer ou pode neste tempo.

Considero que não há tempo verdadeiramente livre. Os segundos de cada dia estão afectos à existência, seja qual for a tarefa. Comemos, dormimos, lêmos, damos um passeio no campo, andamos de bicicleta, tomamos café com os amigos, vegetamos na sala a ver televisão, vemos séries sem conteúdo, vemos documentários de qualidade… Podemos chamar a isto tempos livres???

Livres porquê? Estamos presos ao tempo desde o momento em que fomos concebidos. E só terminamos esta relação no momento em que morremos.

Achamos que são livres porque temos a opção de escolher, porque transcendem a obrigatoriedade perante outros. São momentos em que as nossas acções prestam apenas contas a nós próprios.

Mas ele não pára! Estejamos deitados, a meditar ou a correr num paredão, as voltas no relógio continuam o seu percurso.

E vivemos aprisionados em rotinas que tornam mais veloz o tic tac noutras sociedades tão lento. É tudo uma questão de perspectiva.

Sempre admirei aqueles que dizem ter tempo para tudo. Gostava de ser como eles. Talvez seja apenas uma questão de escolha. A expressão não tenho tempo devia ser abolida, porque não é disso que trata, mas sim da gestão que fazemos da nossa própria história.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O cérebro feminino – Parte I

O cérebro feminino é um livro da neuropsiquiatra americana Louann Brizendine. Diria que satisfaz uma série de curiosidades acerca das diferenças fisiológicas entre homens e mulheres, que têm na verdade fortes repercussões comportamentais.

Vou deixando algumas passagens que me parecem interessantes. Embora muito à laia do “sabia que”, farão de certeza um brilharete em qualquer conversa no âmbito da guerra dos sexos!

1- O cérebro dos homens é cerca de 9% maior que o das mulheres, mesmo tendo em conta as dimensões corporais. No entanto, o número de células cerebrais é igual nos homens e nas mulheres. O que acontece é que nas mulheres surgem mais compactadas, apertadas num crânio mais pequeno, como se fosse um corpete.

2 -As hormonas têm o poder de determinar aquilo que o cérebro está interessado em fazer. Cada estado hormonal – infância, adolescência, idade do namoro, maternidade e menopausa - actua como fertilizante para diferentes conexões neurológicas que são responsáveis por novos pensamentos, emoções e interesses.

3 -As mulheres são capazes de recordar os pormenores mais íntimos dos seus primeiros encontros amorosos e das discussões mais acesas, ao passo que os maridos mal se recordam dos acontecimentos. A química e a estrutura cerebral são responsáveis por isso.

4- Nas áreas cerebrais destinadas à fala e à audição as mulheres dispõem de mais 11% de neurónios que os homens.

5- Os homens têm um volume cerebral duas vezes e meia maior no que respeite ao apetite sexual, assim como também é maior o espaço dos centros destinados à acção e à agressividade.

6 – Os homens dispõem de um processador de maiores dimensões no núcleo primitivo de cérebro que regista o medo e desencadeia a agressão – a amígdala.

Continua...

domingo, 11 de outubro de 2009

Coisas parvas que se escrevem quando se está apaixonado

Sei que te amo…
Porque o coração se agita devagar
E no estômago sinto um nó
E borboletas a voar

E nos olhos tenho o brilho
De um diamante polido
E na boca o sabor
De uma bola de gelado

Nos pés tenho molas
Que me fazem saltar quando te vejo
Nas pernas flechas que disparam para te alcançar

No espírito tenho-te a ti
No corpo tenho-te a ti.

Escrito algures em 2008

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Fénix

Há uns anos criei um blog com o mesmo nome que este. Deixei de escrever nele e a memória atraiçoou-me, fazendo com que me tivesse esquecido da password. Nesse blog escrevi um pequeno texto com o nome de “Qual Fénix…”, apenas duas frases e uma definição, que agora me parecem depressivas!

A definição continua a mesma. Mas os comentários mudaram. Renascer é a capacidade de reciclar o que foi mau, aproveitar a hipótese de construir algo de novo e abraçar novos projectos com a maturidade que só a experiência de vida pode trazer. Em cada ano e em especial em cada década há que aproveitar a Fénix que brota transformada.

FÉNIX - Pássaro mitológico que ao morrer entrava em auto-combustão. Algum tempo depois renascia das próprias cinzas. Acreditava-se que a Fénix durava centenas de anos, pelo que a sua vida longa e o seu dramático renascimento transformaram-na em símbolo da imortalidade e do renascimento espiritual.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A Preguiça

Sinto-me invadida por uma tremenda preguiça. Daquelas a que regularmente damos o nome de preguicite (hiper) aguda.

Esta não é apenas uma preguiça pura e dura, um pecado mortal… ela é muito mais que isso: tem umas pitadas de letargia, outras tantas de melancolia. Quem sabe será uma preguiça de explicação hormonal… sim, para nós as mulheres tudo tem uma explicação hormonal… tudo é demasiado intenso…

Estou com preguiça cerebral e corporal. O cérebro não pensa… o corpo não mexe…

Hino à preguiça

Meiga Preguiça, velha amiga minha,
Recebe-me em teus braços,
E para o quente, conchegado leito
Vem dirigir meus passos.

Ou, se te apraz, na rede sonolenta,
À sombra do arvoredo,
Vamos dormir ao som d'água, que jorra
Do próximo rochedo.
(...)
Tudo a dormir convida; a mente e o corpo
Nesta hora tão serena
Lânguidos vergam; dos inertes dedos
Sinto cair-me a pena.

Mas ai!... dos braços teus hoje me arranca
Fatal necessidade!...
Preguiça, é tempo de dizer-te adeus,
Ó céus!... com que saudade!

Bernardo Guimarães
Poeta e romancista brasileiro > 1825-1884