Até há pouco tempo corroborava com uma visão simplista e manicaista, que dividia de forma um tanto quanto leviana os seres interessantes vs os seres desinteressantes.
Durante uma conversa recente dei por mim a exteriorizar uma posição nova. Não há pessoas desinteressantes. Há pessoas incompatíveis. Que em comum só falam a mesma língua, mas que se distanciam pela linguagem das motivações, das sensações e partilha de quadros mentais que encaixem.
O meu interlocutor, não se mostrou convencido. Mas eu convenci-me.
Se viver em sociedade é viver em grupo, é estabelecer relações de dependência, é um acto contínuo de partilha… Se essa mesma sociedade contempla uma panóplia de seres altos, baixos, loiros, morenos, gordos magros… Se crescer em sociedade é absorver valores conhecimentos, crenças… astrológicas, cristãs, pagãs… Numa palavra diversidade. É porque há algures muitos seres compatíveis entre si… e por outro lado muitos seres totalmente distintos de outros seres.
Por norma é com os primeiros que queremos passar tempo. Passar o tempo que comandamos, em que podemos escolher com quem falar, com quem rir, com quem interpretar um texto, ouvir uma música, mirar uma paisagem, comer um doce, beber um café, passear num dia de vento, tirar uma fotografia…
A amizade é assim. Escolhemos rodear-nos de pessoas que para nós são interessantes, que num ou noutro ponto reflectem um bocadinho (o lado bom d)a nossa própria existência… e quanto mais reflectem mais gostamos delas. Porque aprendemos e ensinamos numa deliciosa dinâmica de troca gratuita, voluntária e quase desinteressada… Quase… porque no fundo só gostamos delas por terem o seu quê de brilhante.
Quanto aos outros, não nos damos ao luxo de perder tempo, nem de os perceber, nem nos interessa percebe-los… porque vêem o mundo com outras lentes… não os consideramos intelectualmente fascinantes, mas sim excessivamente limitados... e acima de tudo não fazem parte das peças do nosso puzzle… mas com certeza que arranjarão espaço na vida de outro alguém!
Mas não na nossa...