A complexidade que caracteriza o Homem faz que num só ser vivam muitos outros, com peculiaridades muito próprias, que vão entrando em cena sucessivamente, muitas vezes sem avisar.
Há pessoas mais intensas que vivem de forma extrema as boas e as más emoções. Porque é disso que se trata, de uma gestão diária de emoções que podem simplesmente ser subjugadas pela razão e desta forma nos aproximarem de um ideal de perfeição.
Por perfeição entenda-se: dizer a palavra certa, o comentário correcto, o silêncio conclusivo, a capacidade de perdoar (porque na verdade não se chegou a sentir), a escolha ponderada, a opção pelo caminho de estrada alcatroada pelo qual se conduz sem trepidação, sem que o coração salte em cada buraco, e sobretudo ignorar o sentido do arrependimento.
Na perfeição não há lugar para se estar arrependido, porque tudo é ideal. Há uma espécie de fiel da balança que se mantém inabalável marcando o centro, o meio termo: a virtude!...
Porém há um lugar comum que tão bem ilustra este sentimento “a perfeição não é deste mundo”. A verdade é que ninguém é totalmente bom… se bem que tenho mais dúvidas quanto à capacidade de se ser inteiramente mau.
Há sempre um lado sórdido que uma vez por outra nos turva a vivência, o lado em que somos egoístas, narcisistas, em que vivemos rodeados de espelhos acreditando que somos o centro de tudo. Agimos como se o mundo fosse nosso, a verdade fosse nossa e só aquilo que pensamos interessasse. É nesses dias que discutimos, que desistimos, que viramos as costas, que somos vingativos, que idealizamos planos maquiavélicos para pagar aos outros na mesma moeda. Ou então fechamos a porta, daquele género sem avisar, em que os outros ficam meio atordoados sem que percebam porquê.
Mas há tantas vezes um lado belo… Que nos faz brilhar os olhos, ver os sorrisos das crianças, dar um ombro para alguém chorar, encher um saco do banco alimentar, dizer a alguém que essa pessoa é importante, ter empatia com os outros e perceber que não adianta agir em círculos porque seremos vitimas do nosso próprio fel, nem tão pouco ser incorrectos quando jamais admitiríamos que o fossem connosco. É ser capaz de deitar alguém no colo, ou procurar de forma indefesa o colo de alguém.
Humanidade é dualidade. Não nos podemos martirizar por nem sempre acertarmos na forma de vida mais coerente, e na decisão mais sensata. Se a tomamos foi porque as emoções nos guiaram até ela… E a vida não tinha piada sem umas pinceladas de sofrimento, de descontentamento e de desconforto… como se costuma dizer só assim se podem experienciar os seus antónimos.
Por muito que amemos, e que sejamos luminosos, há sempre um dia de trevas em que voltaremos a pecar.