terça-feira, 3 de julho de 2012

Estou cansado…


Não um cansaço físico mas mental. Cansado de lutar. De correr em círculos longos e curtos. De cair e de me levantar. Estou cansado de ter padrões. Cansado de recomeçar. De não compreender. Estou cansado de não confiar. Cansado de ter expectativas. Cansado de pensar. Cansado de jogar. Simplesmente cansado de ser racional… talvez cansado da humanidade. Que ideia romanceada a dos robots quererem ser humanos, é tão menos cansativo ter um interruptor e meia dúzia de circuitos!

E agora nas palavras de Álvaro Campos… sem dúvida mais profundo e reflexivo mas igualmente cansado.


Estou Cansado

Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
 E luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa