Olhemos de relance para as histórias de amor que nos foram contadas na infância.
Comecemos pela Branca de Neve, uma menina muito alva e bonita cuja madrasta fez o favor de afastar do reino para eliminar a concorrência. Não satisfeita em tê-la ostracizado ainda lhe deu uma maçã envenenada que a fez entrar em coma. Mas eis que chega o final feliz, o príncipe aparece, beija-a, a maçã solta-se da garganta. Branca de Neve acorda e vivem felizes para sempre.
No que toca à bela adormecida a rapariguita pica-se numa roca de fiar quando fez 16 anos, porque a sua fada madrinha se irritou com os seus pais e decidiu castigar a menina dando-lhe o sono eterno. A ela e ao resto do reino. Passados cem anos aparece um príncipe que a beija e a desencanta. Bela Adormecida acorda e vivem felizes para sempre.
Depois vem Cinderela, também conhecida por Gata Borralheira. Completamente explorada pelas feiosas das enteadas e da madrasta. Impedida de ir ao baile (com a ajuda da fada lá foi embora tivesse fugido às 12 badaladas) e trancada num sótão para que não experimentasse o sapatinho de cristal. O seu pé perfeito lá foi descoberto e entrou no stiletto. O príncipe reconhece-a como o amor da sua vida e vivem felizes para sempre.
Seguem-se a Bela e o Monstro, a Rapunzel, a Princesa e a Ervilha, etc, etc, etc… E não venham com a história do Shrek. A Fiona decide ser ogre, mas não é por isso que deixa de se casar na flor da idade e de ser feliz para sempre!!!!
A ideia continua a ser perpetuada com centenas de comédias românticas cujo final não é difícil de adivinhar ainda antes de se conhecer o enredo.
Mediante este panorama, seria difícil não ter criado uma legião de mulheres que temem ser vistas como uma espécie de seres alienados quando por algum motivo nesta encarnação não se conseguem compatibilizar com alguém pelas mais diversas razões.
Não nos esqueçamos que a vida é uma sucessão de etapas que nos levam ao desenvolvimento pessoal. Reinventem-se os clássicos e poupem-se horas de terapia às futuras gerações de mulheres!
PS. Este texto não exclui a ideia de que o Amor é um estado de plenitude, apenas pretende sublinhar que encontrar o Amor não deve ser perseguido, mas algo inesperado. Simplesmente acontece sem data marcada… E se não acontecer é porque não tinha que acontecer…