sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A vida num teledisco


Entramos no carro. Colocamos a chave na ignição. Deixamos as janelas fechadas. Um dos nossos CD’s favoritos começa a tocar. E assim somos transportados para o nosso teledisco. Que na verdade nem é nosso. São os outros que preenchem as notas musicais que ouvimos. Dão-lhes cor. Emprestam a sua figura, e a sua existência para nós nos abstrair-nos da nossa… e realizarmos espontaneamente uma película.

A música enche o ar…e conseguimos respirá-la e deixar que nos entre em cada poro. Então começamos a olhar para a paisagem. A nossa cabeça fica vazia. Focamo-nos nas pessoas… e naquilo que nossos olhos retêm durante os escassos segundos que as vislumbramos enquanto passamos de carro por elas.

O cão. A senhora gorda com o vestido justo. Um par de seniores com um ar esguio que faz jogging. As folhas que se agitam nas árvores. As nuvens brancas que rasgam o céu azul. O autocarro que pára na paragem. Um casal de mãos dadas que passeia devagar. A velhinha sentada a ver passar o trânsito. E o alcatrão que passa por baixo das nossas rodas.

Todos estão lá menos nós. Nós evadimo-nos numa espécie de teletransporte que nos permite por momentos pairar sobre tudo. Não existir. Contemplar. É então que a música acaba e descemos ao nosso corpo. Abrimos a janela e acaba-se a outra dimensão. Voltamos ao frenesim… À nossa realidade.

Mais tarde, ou amanhã faremos tudo de novo. Talvez a musica seja a mesma, mas os pormenores são outros. E são as diferenças que têm tanta piada!