Morreu a minha última bisavó. Curiosamente, conheci as quatro. A avó Custodinha. A avó Aninhas. A avó Lucinda. A avó Esperança.
Todas elas morreram de velhice, naquela fase da vida em que talvez se fique sentado numa cadeira à espera que um dia tudo acabe. Em que já se teve filhos, netos, bisnetos e trinetos. Em se nasceu no final da Monarquia, passou-se pela implantação da República, viveu-se no Estado Novo e experienciou-se a Democracia. Duas delas mudaram também de século.
A avó Custódia tinha 92. A avó Aninhas 89. A avó Lucinda 98. A avó Esperança 99. A lei natural da vida prepara-nos para a perda quando vemos que quase 100 anos de existência já pesam tanto que não lhes dá sequer vontade de sorrir.
A avó Esperança tinha cinco filhas. Dezanove netos. Sei que eu era a bisneta mais velha… já perdi a conta aos outros. Trineto tinha um.
Quando o caixão fechou no cemitério, olhei em volta. Estava um dia de sol. E ali estávamos nós. Os descendentes. E então tive o pensamento genuinamente mais existencialista até hoje.
A vida dela tinha chegado ao fim…. Ela partiu, mas a sua história não acabou... ficámos NÓS.