terça-feira, 10 de novembro de 2009

Ir vivendo… ou comecem a procurar os vossos amantes

Há dias enviaram-me um texto que inicialmente me recusei a ler. “Procura-se um amante”… o meu primeiro pensamento foi “ raios estes homens só pensam em mulheres e em relações ilícitas” … e o texto foi direitinho para os itens eliminados.

Claro que o meu desagrado foi expresso em email posterior. E a resposta não se fez esperar “Pois então devias mesmo ler. A palavra “amante” não encerra apenas o termo estrito da questão, mas sim aquilo que nos leva a viver com alegria e vontade.”.

Rendi-me ao argumento e li o artigo. Nunca é demais absorver coisas que nos possam inspirar… Deixo assim um excerto… e já se viu que corroboro com a opinião do autor “comecem a procurar os vossos amantes”!

PROCURA-SE UM AMANTE
Amante é "aquilo que nos apaixona". É o que toma conta do nosso pensamento antes de adormecermos, e é também aquilo que, às vezes, nos impede de dormir. O nosso Amante é o que nos mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa volta. É o que nos mostra o sentido e a motivação da vida.

Às vezes encontramos o nosso amante no nosso parceiro, outras vezes, em alguém que não é nosso parceiro, mas que nos desperta as maiores paixões e sensações incríveis. Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica ou na literatura, na música, na política, no desporto, no trabalho, na necessidade de nos transcendermos espiritualmente, numa boa refeição, no estudo, ou no prazer obsessivo do nosso passatempo preferido...

Amante é "alguém" ou "algo" que nos faz "namorar" a vida e nos afasta do triste destino de "ir vivendo". E o que é "ir vivendo"?

"Ir vivendo" é ter medo de viver. É vigiar a forma como os outros vivem, é o deixarmo-nos dominar pela pressão, andar por consultórios médicos, tomar remédios multicoloridos, afastarmo-nos do que é gratificante, observar decepcionados cada ruga nova que o espelho nos mostra, é aborrecermo-nos com o calor ou com o frio, com a humidade, com o sol ou com a chuva.

"Ir vivendo" é adiar a possibilidade de viver o hoje, fingindo contentarmo-nos com a incerta e frágil ilusão de que talvez possamos realizar algo amanhã.

Acreditem que o trágico não é morrer, porque afinal a morte tem boa memória e nunca se esqueceu de ninguém. O trágico é desistir de viver, por isso, e sem mais delongas, procurem um amante.

Jorge Bucay - Psicólogo