Deram-me a conhecer esta semana o CD “Rua da Saudade”, onde a obra poética de Ary dos Santos, falecido em 1984, é cantada pela voz de Luanda Cozetti, Mafalda Arnauth, Susana Félix, e Viviane.
Depois de ouvir o CD duas vezes completas a caminho de Lisboa, fixei-me numa delas e dei por mim a fazer o mesmo percurso dois dias seguidos a ouvir a mesma música. Uma espécie de inexplicável vício mental.
Foi então que percebi que este vício mental é comum a alguns seres.
Lembrei-me de uma tarde - há uns 7 anos atrás - em que quase enlouqueci. Ou melhor o departamento quase enlouqueceu quando o nosso chefinho resolveu pôr a tocar “solta-se o beijo” da ala dos namorados em repeat, com a agravante de termos feito serão nesse dia. Durante meses não conseguimos sequer pensar em “solta-se o beijo o gato mia”.
No caso da “Rua da Saudade” apenas “o I, o me, e o myself” são presenteados com a repetição do poema que transcrevo. Cada vez que se ouve compreende-se melhor a intensidade da letra, ao mesmo tempo que é interessante apercebermo-nos da dinâmica de vozes. Sente-se que a voz brasileira sorri ao cantar, enquanto a portuguesa sofre…
Canção do Tempo
Para um tempo que fica doendo por dentro e passa por fora
Para o tempo do vento que é o contratempo da nossa demora
Passam dias e noites, os meses, os anos, o segundo e a hora
E ao tempo presente é que a gente pergunta: E agora?, E agora?
Tempo para pensar cada momento deste tempo
Que cada dia é mais profundo e é mais tempo
Para inventarmos outro tempo menos lento
Tempo dos nossos filhos aprenderem com mais tempo
A rapidez que tem de ser o pensamento
Para nascer, para viver, para existir
E nunca mais verem o tempo fugir
Ai o tempo constante que a cada instante nos passa por fora
Este tempo candente que é como um cometa com laivos de aurora
É o tempo de hoje, é o tempo de ontem, é o tempo de outrora
Mas o tempo da gente é o tempo presente, é agora, é agora
Tempo para agarrar cada momento deste tempo
Interminável e absoluto rasgo o tempo
Num temporal com os ponteiros do minuto
Tempo para o relógio bater certo com a vida
De um homem bom, de um homem são, de um homem forte
Que da chegada conseguir fazer partida
E que desperta adiantado para a morte
Para um tempo que fica doendo por dentro e passa por fora
Para o tempo do vento que é o contratempo da nossa demora
Passam dias e noites, os meses, os anos, o segundo e a hora
E ao tempo presente é que a gente pergunta: E agora?, E agora?
Tempo para pensar cada momento deste tempo
Que cada dia é mais profundo e é mais tempo
Para inventarmos outro tempo menos lento
Tempo dos nossos filhos aprenderem com mais tempo
A rapidez que tem de ser o pensamento
Para nascer, para viver, para existir
E nunca mais verem o tempo fugir
Ai o tempo constante que a cada instante nos passa por fora
Este tempo candente que é como um cometa com laivos de aurora
É o tempo de hoje, é o tempo de ontem, é o tempo de outrora
Mas o tempo da gente é o tempo presente, é agora, é agora
Tempo para agarrar cada momento deste tempo
Interminável e absoluto rasgo o tempo
Num temporal com os ponteiros do minuto
Tempo para o relógio bater certo com a vida
De um homem bom, de um homem são, de um homem forte
Que da chegada conseguir fazer partida
E que desperta adiantado para a morte